Socialismo é a resposta para o século XXI

Makis Papadopoulos, Membro do Birô Político do Comitê Central do Partido Comunista da Grécia (KKE)

(Ilustração da responsabilidade da Iskra)

A nova crise capitalista internacional, assim como a situação que se criou em muitos países devido à pandemia, revelam a face repugnante da barbárie capitalista e deixam claro objetivamente a necessidade e atualidade histórica do socialismo.

O KKE está procurando contribuir com esse esforço nas condições particularmente adversas que se desenvolveram nas últimas décadas após a vitória da contrarrevolução na Europa e o fortalecimento das relações capitalistas em países que por décadas estiveram engajados na construção do socialismo. Este esforço está em desacordo com abordagens oportunistas que nos exigem abandonar a estratégia revolucionária de acordo com as leis científicas da revolução e da construção socialista (por exemplo, socialismo de mercado, “socialismo democrático do século ΧΧΙ”).

Para examinar as características do socialismo no século XXI, com base nos princípios teóricos do marxismo-leninismo, devemos examinar tanto a experiência histórica do século XX, quanto as possibilidades objetivas e os novos problemas colocados pelo avanço científico e tecnológico nas novas condições da economia digital e da chamada 4ª Revolução Industrial.

Em concreto devemos examinar, sobre a base do materialismo dialético e histórico, as contradições e contrastes que determinam o movimento da sociedade socialista. É necessário estudar o esforço e o grau de utilização consciente por parte do poder soviético da lei fundamental do socialismo, a coordenação de todos os objetivos da produção para a plena satisfação das necessidades da sociedade. No marco deste breve artigo, nos concentraremos em alguns pontos básicos.

A VALIOSA EXPERIÊNCIA DO SÉCULO XX

A vitória da Revolução Socialista de Outubro de 1917 na Rússia destacou o caráter libertador das relações de produção socialistas-comunistas com respeito ao desenvolvimento das forças produtivas. Outubro de 1917 destacou a superioridade do planejamento científico central no desenvolvimento das forças produtivas, sobre a base sólida do poder dos trabalhadores, da propriedade social. A rápida eletrificação de todo o país, a eliminação do desemprego e do analfabetismo, a educação geral obrigatória e gratuita, a jornada de trabalho de oito horas e a verdadeira igualdade entre homens e mulheres no trabalho e na vida, a emancipação dos preconceitos racistas, a transformação épica da indústria de paz em indústria de guerra antes e durante a Segunda Guerra Mundial são alguns exemplos característicos das primeiras décadas do poder soviético, assim como, em seguida, o salto na exploração espacial.

Nesse período histórico particular, destacou-se a possibilidade da administração centralizada da produção social adquirir um caráter científico mais claro e a melhora da organização e coordenação do esforço coletivo de milhões de trabalhadores pelo governo soviético. Se confirmou a necessidade da implementação de um plano estatal único, do princípio do centralismo democrático e da utilização da emulação socialista como método de administração, para aumentar a eficácia da planificação centralizada da economia.

Para compreender a importância dessas conquistas na União Soviética, é preciso considerar as condições históricas em que foram alcançadas. As conquistas do poder soviético foram obtidas em condições de invasão imperialista, cerco imperialista, ameaças internacionais permanentes e luta de classes agudizada com ações internas para minar a produção. Foram alcançadas em condições de grande escassez de recursos materiais, de especialistas científicos especializados e em condições de pressão de tempo para avançar no desenvolvimento de setores e ramos de importância estratégica face ao antagonismo da URSS com o sistema imperialista internacional. O poder soviético cobriu também muito rapidamente a distância entre a Rússia czarista pré-revolucionária e fortes estados capitalistas como os EUA, Grã-Bretanha, Alemanha.

O salto atingido durante as primeiras décadas da União Soviética demonstra que através da expansão da propriedade social dos meios de produção e da planificação científica central da economia, a produtividade do trabalho e as aplicações tecnológicas inovadoras na economia aumentaram dramaticamente. O objetivo e o ritmo de desenvolvimento das forças produtivas foram alterados. O trabalhador, a principal força produtiva, foi liberto de suas amarras, pois não buscava mais um patrão na selva do mercado capitalista para vender sua força de trabalho. Assim, um novo exército de cientistas foi criado entre os filhos da classe trabalhadora e camponeses pobres.

O poder operário soviético foi estabelecido na década de 1920 sobre a base sólida dos sovietes, das Assembleias Gerais dos trabalhadores em cada local de trabalho, com representantes da Assembleia nos órgãos superiores de poder, em cada setor, que poderiam ser revogados. Este foi um passo importante no exercício efetivo do poder dos trabalhadores.

Destacou-se a superioridade do planejamento central do poder dos trabalhadores sobre o mercado capitalista, onde grupos monopolistas planejam e competem para garantir maior taxa de lucro, maior participação no mercado.

A experiência histórica soviética destacou ainda que o curso da construção socialista não é objetivamente uma questão simples, não avança suavemente e em linha reta. Vários problemas atuais que surgiram, como atrasos na modernização tecnológica da indústria com consequências negativas para a qualidade e suficiência dos produtos e dificuldades em concentrar dados suficientes para o planejamento central da produção, foram mal interpretados como fragilidades inerentes às relações de produção socialistas. De acordo com avaliações soviéticas, o volume de produção da URSS não atingia nem um terço da produção dos Estados Unidos no início dos anos 1950, enquanto os Estados Unidos detinham a liderança militar no desenvolvimento de armas nucleares.

Particularmente depois da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética teve de elevar o nível de produção e serviços com base em um nível mais alto de necessidades sociais. Teve de resolver este problema em condições de enormes perdas humanas nas idades mais produtivas.

Era um problema particularmente difícil de enfrentar, para assegurar o desenvolvimento proporcional de todos os setores da produção, a melhoria da qualidade dos produtos de consumo popular, a prioridade na produção de meios de produção, a expansão da automação para muitos setores da economia, as medidas necessárias para garantir que não se agudizasse a contradição entre o trabalho administrativo e o trabalho executivo.

Em geral, tratava-se de assegurar a prioridade do desenvolvimento dos meios de produção contemporâneos em relação aos meios de consumo, mantendo as proporções básicas de todas as partes e elementos da economia, melhorando a qualidade e a eficiência da produção, a aplicação rápida do crescimento de novas conquistas técnico-científicas, aumento da consciência socialista e da iniciativa criativa dos trabalhadores.

Nesta conjuntura histórica crucial, a solução deveria ser encontrada com os olhos no futuro, através da expansão planejada das relações de produção comunistas.

A julgar pelos resultados, na década de 1950 ficou evidente que não havia uma dinâmica teórica conquistada coletivamente para enfrentar efetivamente esses problemas.

Na trajetória histórica da União Soviética ocorreram também sérios debates e controvérsias teóricas no campo da filosofia e da economia política. Foi importante a discussão teórica no período 1927-29, bem como nas décadas seguintes, sobre a relação dialética e a interação entre as forças produtivas e as relações de produção. A elaboração teórica e a discussão a respeito destacaram o papel ativo das relações socialistas de produção, que ditavam a direção, a intensidade e o ritmo do desenvolvimento das forças produtivas. Elas enfatizaram que as relações de produção e as forças produtivas não estão em uma relação externa e estática, não se desenvolvem de forma autônoma e independente. O papel ativo das relações de produção socialistas se desempenha com o esforço operário de abolir as sobrevivências da propriedade privada e de orientar o desenvolvimento das forças produtivas na direção da plena satisfação das necessidades sociais.

Infelizmente, o conteúdo do debate teórico centrou-se principalmente na necessidade de separar o objeto científico da economia política do objeto mais amplo do materialismo histórico e dialético e não orientou a pesquisa teórica a aprofundar a questão crucial da interação das relações de produção e o desenvolvimento das forças produtivas.

Este aprofundamento teórico foi necessário para elevar o nível da base científica dos métodos de administração socialista da economia e orientar eficazmente o contínuo esforço político de consolidação e plena prevalência da forma madura de socialização da produção, do planeamento central e da gestão social da propriedade na economia como um todo.

Nesse período, também foi significativa a controvérsia filosófica (1924-1929) entre os “dialéticos” e os “mecanicistas” sobre a compreensão do conceito de contradição dialética e seu papel no desenvolvimento dos fenômenos naturais e sociais. No início da década de 1930, já havia aparecido o conceito teórico de “contradição não antagônica”.

O filósofo soviético Ilyenkov destacou alguns anos depois que essa abordagem filosófica teria impacto no debate sobre as questões da economia política do socialismo, no que diz respeito à necessidade de uma delimitação clara das relações mercadoria-dinheiro como elemento alheio ao planejamento central. Em vez de lutar decisivamente pela abolição do mercado e da economia mercantil, gradualmente prevaleceu a percepção oportunista da possibilidade de difusão, incorporação limitada e utilização do funcionamento do mercado através do planejamento centralizado do poder operário.

Na década de 1950, Estaline resumiu esse debate em sua obra Problemas Econômicos do Socialismo na URSS. Em conclusão, ocorreu um debate interno no partido bolchevique em que as forças revolucionárias resistiram aos partidários do mercado. No entanto, as etapas de desenvolvimento da economia política marxista do socialismo não foram suficientes para enfrentar os problemas relativos à priorização das necessidades sociais e ao planejamento efetivo para satisfazê-las. Foram insuficientes no que respeita à elaboração de diretrizes, métodos e indicadores para calcular e avaliar o desenvolvimento e desempenho da indústria socialista e da produção agrícola, à luz das crescentes necessidades sociais e às novas demandas da produção socializada.

Por exemplo, na década de 1950, continuaram predominando no planejamento central os indicadores relativos ao aumento do volume de produção, quando deveriam predominar os indicadores relativos ao aumento da produtividade do trabalho, economia de matérias-primas, melhoria dos materiais utilizados na produção, integração rápida de novas conquistas científicas e tecnológicas amplamente na produção.

A investigação marxista do curso histórico de configuração da economia política do socialismo na URSS é necessária para não repetir os mesmos erros da próxima vez.

As decisões foram tomadas em condições particularmente prementes, sem deixar lugar para considerações de longo prazo. Dificuldades objetivas ocorreram desde o primeiro período devido à falta de recursos materiais e de pessoal especializado, o baixo nível educacional da classe trabalhadora, mesmo no pós-guerra, com a necessidade de uma ampla reorganização de vários setores da economia.

Hoje temos a vantagem de investigar e aprender com os erros teóricos e as contradições que se manifestaram sob a pressão dessas dificuldades objetivas.

Claro que a dificuldade de superar as deficiências teóricas, assim como o debate ideológico no PCUS e nos demais partidos comunistas, baseava-se na existência de diferentes forças sociais, de diferentes interesses materiais nos países socialistas.

Em muitos países socialistas a propriedade privada na produção agrícola ainda não havia sido abolida. Tampouco o direito de contratar mão de obra foi completamente abolido. Na própria União Soviética, além de manter a propriedade grupal dos kolkhozes no setor agrícola, a participação e o controle dos trabalhadores diminuíram e as diferenças de renda foram mantidas. A contradição entre o trabalho administrativo e o trabalho executivo tornou-se mais aguda.

No pós-guerra e principalmente após o XX Congresso do PCUS em 1956, abriu-se o caminho para a derrubada do socialismo, o retrocesso no curso da História. Nos debates econômicos de 1960, prevaleceram as visões oportunistas do “socialismo de mercado”, cujo resultado foi a reforma econômica de Kosygin em 1965.

No mesmo período a concepção marxista-leninista do Estado operário também foi revista. O XXII Congresso do PCUS (1961) caracterizou o Estado da URSS como um Estado “de todo o povo” e o PCUS como um “partido de todo o povo”.

Assim, em vez de buscar uma solução voltada para o futuro, para a expansão e aprofundamento das relações socialistas de produção, se buscou olhando o passado no uso de ferramentas e relações de produção capitalistas. A administração central da economia planificada foi enfraquecida. Cada unidade de produção individual determinava independentemente seus objetivos de eficiência, fragmentando essencialmente os objetivos gerais da produção social. O mercado e a produção de mercadorias se fortaleceram, as desigualdades de salários cresceram, a propriedade privada e de grupo se expandiu principalmente no setor agrícola.

Ou seja, uma força social formada pelos diretores da produção socializada e a propriedade grupal dos kolkhozes, que inicialmente obstaculizaram o caminho da construção socialista e logo adquiriram a condição de usurpar parte do produto social, criando assim um “capital na sombra”. Esta força social finalmente dominou politicamente e dentro do KKSE.

A contrarrevolução não teria vencido se houvesse uma preparação teórica e política coletiva para enfrentar os difíceis problemas colocados pelo novo patamar de desenvolvimento da produção social, na direção da abolição das relações mercantis e da propriedade grupal dos meios de produção.

Tanto a experiência histórica positiva como a negativa do século XX, depois da vitória da Revolução Socialista de Outubro de 1917, demonstram o papel libertador das relações socialistas de produção no desenvolvimento das forças produtivas com a finalidade de satisfazer as necessidades da sociedade.

A trajetória histórica, desde a vitória da Revolução Socialista de Outubro de 1917 até a vitória da contrarrevolução e a derrubada do socialismo no início dos anos 1990, demonstra e assinala a importância da aplicação criativa dos princípios leninistas para a construção socialista.

Se trata de uma experiência histórica valiosa que, por um lado, ilumina os resultados benéficos quando a vanguarda revolucionária está consciente e utiliza corretamente as leis científicas da construção socialista e, por outro lado, as consequências negativas quando isso não ocorre, a causa da deficiência teórica e política coletiva e o predomínio de visões oportunistas no Partido Comunista, sob a pressão da negativa da correlação de forças e das grandes dificuldades que podem surgir.

Demonstra também as limitações e dificuldades objetivas no esforço de administrar a economia de maneira planificada, que em cada fase indica o nível de desenvolvimento das forças produtivas, progresso técnico e a produtividade do trabalho.

ALGUMAS CONCLUSÕES BÁSICAS

Em resumo, o que a experiência do século XX nos ensinou?

Em geral, tem-se afirmado que a construção socialista não é um caminho fácil, linear, progressista, e que implica o risco de retrocesso. Confirmamos alguns termos e condições básicos inter-relacionados que determinam o resultado desta difícil tarefa. Em concreto:

1. Confirmou-se a importância da orientação firme e inabalável do Partido Comunista e do poder dos trabalhadores para a expansão e predominância total da propriedade social, o desenvolvimento das relações de produção comunistas, a eliminação de todas as formas de produção individual e grupal de mercadorias. Destaque-se a falência histórica do “socialismo de mercado” como forma de transição da fase imatura para a fase madura do comunismo.

Manter a orientação revolucionária na construção socialista requer um entendimento teórico de que a lei do valor não é uma lei da economia socialista, não pode regular suas proporções. Requer a compreensão teórica de que, enquanto as relações mercantis-dinheiro forem mantidas, existe o perigo de que as forças sociais contrarrevolucionárias se fortaleçam. O efeito da lei do valor na vida econômica está em contradição com o planejamento central e deve ser superado decisivamente mediante a transformação planejada de toda produção em produção diretamente social.

A tentativa de limitar o efeito da lei do valor com algumas medidas do Estado socialista, como a limitação dos preços e planos de produção, não é uma solução radical, essencial para enfrentar a longo prazo o risco de questionamento do poder dos trabalhadores. É um compromisso temporário necessário do poder dos trabalhadores, quando o grau de socialização do trabalho não permite a socialização imediata de todas as formas de propriedade de grupos. Ficou demonstrado que é necessária uma orientação firme para criar o mais rapidamente possível a base material para eliminar todas as formas cooperativas e, claro, suas relações comerciais com o setor de produção socialista.

2. A experiência tem evidenciado a importância decisiva do esforço do Partido Comunista para melhorar cientificamente e adaptar de maneira criativa e constante a planificação central às novas exigências colocadas pelo novo patamar de desenvolvimento da produção social.

A planificação central é uma relação social determinada pela propriedade social dos meios de produção. Expressa a maneira radicalmente diferente pela qual os trabalhadores se unem aos meios de produção, sem a mediação do mercado. Permite o controle operário sobre o que vai ser produzido, como vai ser produzido, como será distribuído nos diversos ramos da produção.

Enfrenta limitações objetivas, pois o nível de desenvolvimento das forças produtivas não permite o acesso, na mesma medida, a todo o produto social conforme as necessidades, nem permite que a contradição entre o trabalho administrativo e o executivo seja imediatamente superada e, em geral, a contradição entre trabalho intelectual e manual.

Sob a pressão das dificuldades objetivas, dos diferentes interesses materiais sociais e da insuficiência teórica e científica, sempre existe o risco de cometer graves erros subjetivos em cada plano individual no que diz respeito aos objetivos de produção, as prioridades com respeito ao desenvolvimento proporcional dos ramos de produção, à capacitação e especialização da força de trabalho e o esforço para abolir a diferenciação de classes.

3. A experiência histórica do século XX destacou o papel insubstituível da ditadura do proletariado na construção socialista, bem como a falência histórica da percepção oportunista do “estado de todo o povo”.

A trajetória soviética, tanto na ascensão quanto na retirada, mostrou que a ditadura do proletariado pode cumprir sua missão somente se for apoiada pela mobilização dos trabalhadores, de modo que amplas massas populares adotem as direções e objetivos de forma enérgica e combativa.

Por isso é crucial que os seus órgãos, desde o nível inferior aos órgãos centrais do poder, funcionem de forma substancial e não apenas formal. Que a Assembleia Geral dos trabalhadores funcione eficazmente em cada local de trabalho, ou seja, com base nos princípios de controle, atribuição de responsabilidades e revogação dos representantes eleitos nos órgãos superiores do poder. Assim, é estabelecido o direito eleitoral substantivo em oposição ao direito eleitoral formal, da igualdade formal da democracia burguesa, da ditadura do capital.

Esta operação pode proteger o curso da construção socialista de erros subjetivos e desvios na preparação e implementação de cada plano, no quadro da planificação central.

Este perigo destaca o papel que deve ser desempenhado pelo poder revolucionário da classe trabalhadora, a ditadura do proletariado. O fortalecimento das relações de produção comunistas pressupõe a ação consciente dos trabalhadores. Exige-se uma democracia de qualidade superior, com participação ativa dos trabalhadores na adoção, implementação e controle das decisões. Converter o local de trabalho em núcleo de organização do poder operário é elemento básico dessa democracia de qualidade superior. As decisões relativas à Constituição da URSS na década de 1930, que deslocaram a formação dos sovietes do local de trabalho, contribuíram para o enfraquecimento de seu papel e confirmam de maneira negativa essa conclusão.

Com a vitória da revolução, a consciência socialista não está totalmente formada e estabelecida no povo. Por isso a intervenção de vanguarda do Partido Comunista joga um papel decisivo. O Partido Comunista é o núcleo dirigente do poder operário revolucionário, pois é a única força que atua conscientemente com base nas leis do movimento da sociedade socialista comunista. Por isso, deve ser capaz em todas as circunstâncias de guiar a classe trabalhadora a cumprir sua missão histórica.

O Estado socialista, como instrumento da luta de classes que continua em novas formas e sob novas condições, deve desempenhar tanto seu papel defensivo-repressivo quanto sua função criativa, econômica e cultural.

O Estado operário, como mecanismo de dominação política, é necessário até a transformação de todas as relações sociais em comunistas, até o desenvolvimento da consciência comunista na grande maioria dos trabalhadores e até o predomínio das relações socialistas de produção na maior parte do mundo.

4. A experiência soviética mostrou que, para cumprir com as condições anteriores, o Partido Comunista deve manter a capacidade de desenvolver sua política em bases científicas e classistas. Em outras palavras, o Partido Comunista deve constantemente reafirmar seu papel como portador da unidade dialética da teoria e prática revolucionárias. Deve contribuir para o desenvolvimento criativo da visão do mundo marxista-leninista, na medida em que se desenvolve o objeto estudado pela teoria, ou seja, a própria vida em todas as suas formas. Não deve tratar a teoria como um conjunto religioso de dogmas e posições, desvinculado do tempo histórico. O desenvolvimento criativo é necessário para enfrentar a revisão oportunista dos princípios teóricos e das leis científicas destacadas pelo marxismo. Não esqueçamos que frequentemente o revisionismo retorna invocando o enfrentamento de novos problemas e fenômenos complexos.

Claro que o desenvolvimento criativo da teoria é uma tarefa difícil.

DIFICULDADES NA PESQUISA TEÓRICA NO SOCIALISMO

A investigação teórica sobre as leis científicas e a evolução da estrutura da economia do socialismo tem dificuldades objetivas particulares, em comparação com a elaboração teórica marxista da economia política do capitalismo.

Cabe pensar que, quando Marx investigava as leis científicas e o funcionamento da economia capitalista, tinham passado séculos desde o surgimento da produção capitalista no seio da sociedade feudal.

Marx e Engels estudaram o sistema capitalista como um objeto cognitivo em um período em que ele se encontrava em uma fase relativamente madura e avançada, quando se podiam determinar cientificamente todas as condições realmente necessárias para o surgimento e desenvolvimento do capitalismo, as relações internas e essenciais do processo de desenvolvimento distinto de eventos históricos aleatórios e suas formas históricas particulares e específicas. Marx e Engels discutiram, usaram e derrubaram os estudos teóricos burgueses de Smith e Ricardo que os precederam.

A tentativa de Lenine de elaborar a economia política marxista do socialismo começou com recursos limitados: a economia política marxista do capitalismo, os princípios teóricos e o método do materialismo histórico e dialético.

Ele teve de lidar com um grande problema objetivo que foi posteriormente apontado nas respectivas discussões do pensamento filosófico soviético. Ele só pôde estudar o início do surgimento das relações de produção socialistas após a revolução socialista na Rússia. Ele só podia estudar os fundamentos do novo modo de produção do socialismo. Ao mesmo tempo, tinha a tarefa de destacar as leis científicas e prever as questões básicas que a tentativa de construção socialista teria de enfrentar no futuro em condições internacionais em que seguia sendo forte e decisivo o papel das relações de produção capitalistas.

Essa maior dificuldade da investigação teórica do percurso da construção socialista comparada com a investigação do modo de produção capitalista é objetiva porque, ao contrário da revolução burguesa que encontra as formas das relações capitalistas já preparadas, o poder operário não herda formadas as novas relações de produção. As relações socialistas-comunistas de propriedade social só surgem como resultado da ação política revolucionária do poder operário. A pesquisa teórica que deve sustentar a prática revolucionária para o desenvolvimento, expansão e aprofundamento das novas relações sociais de produção, tem como objeto de estudo em grande parte o que acaba de nascer e ainda não amadureceu. Essa dificuldade objetiva pode facilitar o domínio do empirismo, o método de “prova e erro” dos enfoques positivistas, se não existe vigilância e disposição coletiva.

No entanto, nós comunistas temos mais possibilidades e responsabilidades porque podemos estudar a rica experiência histórica do século XX. Podemos estudar e investigar os problemas da economia política do socialismo observando um curso histórico de décadas.

AS NOVAS POSSIBILIDADES DA “QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL”

Ao mesmo tempo, podemos aproveitar as novas grandes possibilidades de construção socialista que são geradas hoje pelo aumento objetivo do grau de socialização do trabalho e da automação da produção. Devemos aproveitar as novas possibilidades geradas pela era contemporânea de rápido desenvolvimento científico e tecnológico, que o pensamento científico burguês codificou como a era da “economia digital” e, aliás, da “4ª Revolução Industrial”.

Vale a pena ver quantas limitações técnicas e científicas que existiam na Rússia em 1917 e na União Soviética em 1950, ante o sucesso do planejamento centralizado e o aprofundamento das relações socialistas de produção hoje já não existem.

Considerem as possibilidades que estão constantemente sendo criadas pela ampla transformação da ciência em poder de produção direto e o crescente grau de automação no processo de produção industrial, que já se estende à previsão automática de falhas e ao pedido automático de peças de reposição necessárias.

Considerem as possibilidades de sistemas mecânicos em coordenação entre si e com os trabalhadores e com contribuição para a tomada de decisão, graças ao avanço da inteligência artificial, robótica e tecnologia da informação, no que diz respeito à coleta rápida e processamento intensivo de grande volume de dados.

Considerem as possibilidades oferecidas hoje pelo aumento do nível de socialização da produção e da produtividade do trabalho para reduzir o tempo de trabalho, aumentar o tempo de lazer e melhorar o conteúdo criativo do trabalho e melhorar o nível educacional geral dos trabalhadores que são a principal força produtiva de cada época.

Neste ponto também devemos levar em conta o exército de cientistas assalariados que objetivamente pertencem ou estão próximos da classe trabalhadora contemporânea, exército que não existia em outubro de 1917.

Considerem as novas possibilidades tecnológicas e científicas para a coleta rápida e processamento intensivo de grande volume de dados que têm a ver com todas as necessidades da sociedade, as possibilidades de garantir não só a suficiência, mas também a qualidade dos produtos, as novas possibilidades de rapidamente melhorar e controlar a produção.

Ao mesmo tempo, o aumento do grau de socialização do trabalho cria a base material, as possibilidades materiais para a eliminação muito mais rápida de toda as forma de propriedade privada e de grupos, por exemplo, a possibilidade de integração direta das cooperativas de produção agrícola no sistema de propriedade social e planificação central.

Considerem também, no quadro da construção socialista, o impulso que o desenvolvimento criativo do marxismo pode dar à pesquisa contemporânea e, em geral, ao processo de conhecimento.

O progresso da pesquisa científica marxista em todos os campos científicos e a cooperação interdisciplinar contribuirá para determinar com maior precisão as proporções quantitativas necessárias para manter o crescimento proporcional entre os principais setores da economia e entre as regiões de um país, bem como as questões de divisão entre os Estados, se for criado um grupo de países que avançará novamente no caminho da construção socialista.

Este rápido progresso científico e técnico aumenta não só a possibilidade, mas também a necessidade de desenvolver a força produtiva básica, o homem trabalhador, e aumentar a participação do trabalhador na gestão da economia.

Esta necessidade pode ser totalmente satisfeita apenas por relações de produção socialistas com pleno uso do progresso científico e técnico, para a melhoria da gestão e organização da produção planificada centralmente.

Objetivamente, o desenvolvimento das forças produtivas na época da economia digital e a continuidade da 4ª Revolução Industrial facilitam a criação das novas relações de produção socialistas e, inversamente, só o socialismo pode aumentar significativamente o desenvolvimento das forças produtivas para satisfazer as necessidades sociais.

Certamente, junto com o surgimento de novas possibilidades, novos problemas já estão surgindo devido a mudanças na produção, no conteúdo de muitas tarefas concretas e, claro, no conteúdo correspondente da educação.

Muitas tarefas rotineiras serão automatizadas. Não só o trabalho manual nas fábricas será abolido, mas também o trabalho intelectual com conteúdo executivo tipificado nos escritórios. A velha imagem de trabalhadores pouco qualificados trabalhando em uma máquina será amplamente substituída pela imagem de robôs trabalhando com um trabalhador altamente qualificado. A demanda por mão de obra especializada de alta qualidade aumentará.

O capitalismo pode responder às novas condições apenas sacrificando mais uma vez as necessidades dos trabalhadores, aumentando a intensificação e o grau de exploração dos que trabalham, ao mesmo tempo em que aumenta o exército de reserva dos desempregados.

Como a economia política marxista demonstrou, apenas o trabalho operário vivo – e não os robôs – cria mais-valia. À medida que aumenta o nível de desenvolvimento da produção técnica, à medida que aumenta a composição técnica e orgânica do capital, a tendência declinante da taxa de lucro é reforçada.

É por isso que o único caminho para a burguesia é aumentar o grau de exploração, usar o aumento da produtividade do trabalho para aumentar o tempo de trabalho roubado, para deter a tendência de queda da taxa de lucro.

O capitalismo limita objetivamente a satisfação das necessidades materiais e culturais dos trabalhadores ao nível exigido pela produção objetivando o lucro capitalista. Assim, limita o desenvolvimento da principal força produtiva, o homem trabalhador, reduzindo as crescentes possibilidades de essencialmente melhorar as condições materiais e culturais de sua vida.

Nas condições atuais, aprofunda-se a contradição entre as forças produtivas que a humanidade já conquistou e as relações de produção capitalistas.

Diante dos grandes problemas que surgem a partir da 4ª Revolução Industrial, destaca-se ainda mais a necessidade e validade histórica do socialismo, pois somente o poder dos trabalhadores pode dar respostas consistentes a esses problemas na perspectiva da prosperidade social.

O socialismo pode responder às mudanças necessárias no conteúdo do trabalho, às necessárias transferências dos trabalhadores para novas tarefas e objetos de trabalho, para novos setores, sem que os trabalhadores corram riscos e vivam com medo do desemprego, sem segurança social, sem assistência médica, como acontece no capitalismo.

Em condições de propriedade social, o planejamento central, ao contrário da selva do mercado, pode moldar e mudar de maneira científica e planejada a distribuição do trabalho, dos cientistas e dos meios de produção em todo o país, em cada região, em cada setor.

O socialismo pode garantir a especialização e o aperfeiçoamento contínuos necessários, a atualização dos conhecimentos e das habilidades laborais dos trabalhadores. Ele pode desbloquear, liberar suas habilidades criativas, sua iniciativa e sua disciplina de trabalho consciente, porque leva coletivamente à vanguarda do desenvolvimento histórico para a libertação social. Pode aproveitar o poder do esforço coletivo, o impulso da emulação socialista.

Além disso, o socialismo abolirá todos os obstáculos gerados pelo antagonismo dos grupos monopolistas do mercado capitalista em face da necessária socialização cada vez mais profunda do trabalho científico, para a livre cooperação interdisciplinar.

Em outras palavras, o presente alto nível de desenvolvimento das forças produtivas facilita as possibilidades de implementação da construção socialista e o aprofundamento das relações de produção socialistas, o processo de eliminação de contradições como entre trabalho intelectual e manual, cidade e campo, etc. Pelo contrário, as relações socialistas de produção libertarão a principal força produtiva, o trabalhador social, contribuindo para um maior desenvolvimento das forças produtivas em benefício da prosperidade social.

Claro que não é um caminho fácil, um caminho de rosas. A vanguarda revolucionária e o poder operário serão chamados a enfrentar problemas difíceis. Por exemplo, o contraste entre trabalho gerencial e executivo torna-se mais complicado em relação ao passado, enquanto afeta e refere-se cada vez mais os trabalhadores intelectuais. Portanto, a redução objetiva do trabalho braçal nas condições atuais não conduz automaticamente à abertura do caminho para a libertação social.

Tudo o que foi dito acima destaca as importantes tarefas de estudo e pesquisa para o desenvolvimento criativo do marxismo-leninismo que devem ser realizadas para atuar efetivamente como vanguarda revolucionária no século XXI.

A força da classe trabalhadora para conhecer e mudar o mundo, sua força para cumprir sua missão histórica e liderar a luta revolucionária pelo socialismo-comunismo, será reafirmada.

Foto: Revolução Russa de 1917 – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)