No México e nos EUA, o Poder do capital contra os trabalhadores migrantes

O ataque anti-imigrante nos EUA intensifica-se: rusgas em locais de trabalho; detenções e prisões ilegais com vista a deportações em massa; separação de menores das suas famílias e o seu retorno forçado aos países de origem; campanha governamental de calúnias e possível detenção em massa de familiares “patrocinadores”; política generalizada de despedimentos por parte de vários monopólios, entre outras medidas.

O governo burguês de Donald Trump, que mobiliza forças federais, estaduais e locais, bem como armamento militar para estes fins multiplica o número diário de detenções de trabalhadores migrantes. Publicamente conduz uma campanha de linchamento mediático e fixou como objetivo três mil detenções por dia e um milhão de deportações até ao final do ano. Estamos perante um aspeto fundamental do ataque geral contra a classe operária nos EUA.

Parte desse ataque é a perseguição seletiva e posterior encarceramento dos seus dirigentes sindicais, nomeadamente nos campos agrícolas. Outra parte é a política de extração ainda maior de mais-valia no interesse geral dos capitalistas daquele país, como é o caso das propostas legislativas para impor um imposto sobre o envio de remessas para o México entre 3,5% e 5%, a favor do Poder e da classe dominante.

No México, a burguesia espezinha e descarta a soberania nacional em nome dos seus próprios objetivos de lucro máximo, ostentação e poderio global. No caso do imposto sobre as remessas, tolera a violação de acordos bilaterais, como o de 1992, que proíbe a dupla tributação de uma mesma pessoa pelo mesmo rendimento. Tal como nos EUA, também no México está na moda espremer ainda mais o conjunto da classe trabalhadora.

Face a cada afronta contra os trabalhadores migrantes, o governo de Claudia Sheinbaum responde com promessas, ameaças vagas, discursos e demagogia. Em vez de exigir o cumprimento do acordo bilateral, limita-se a súplicas ou ações fracas e desorganizadas para tentar convencer os legisladores norte-americanos a atenuar o alcance dessa medida. Não existe uma verdadeira defesa dos direitos dos migrantes.

O Partido Comunista do México já apontava na sua Tese sobre a Estrutura de Classe, aprovada no VII Congresso em 2022, que as deportações nos EUA afetam “trabalhadores imigrantes que obtêm melhores remunerações e se encontram à beira de alcançar direitos mais amplos, como o da reforma”, com idades entre os 20 e os 50 anos e estadias no país que vão dos 5 aos 20 anos ou mais.

As deportações sob o Poder do Capital encabeçado por Donald Trump visam aliviar, à custa do presente e do futuro desta ampla secção da classe operária os compromissos que tanto as grandes empresas capitalistas como o próprio Estado têm perante ela no plano dos direitos sociais e laborais; além de fomentar ilusões insalubres e irreais junto de outra parte da classe trabalhadora de que tal os beneficiará de alguma forma.

Continua atual o que Estaline escrevia em A Revolução de Outubro e a questão das camadas intermédias (1923):
“As nacionalidades oprimidas são oprimidas não apenas como camponeses e como operários urbanos, mas também como nacionalidades, ou seja, como trabalhadores de determinada nacionalidade (…). A dupla opressão não pode deixar de revolucionar as massas trabalhadoras das nacionalidades oprimidas, nem pode deixá-las de impulsionar a lutar contra a principal força de opressão: o capital.”

A classe trabalhadora e os setores populares devem perceber claramente o que se esconde por trás da espessa névoa do nacionalismo reacionário da burguesia. Para que não aceitem nem legitimem a ideia de que os trabalhadores migrantes são os responsáveis pelo desemprego, pela precariedade e pela terrível degradação das condições de vida. A unidade necessária não é contra outros trabalhadores, mas contra a classe exploradora que conduz a sociedade em função dos seus interesses exclusivos.

Caso contrário, continuarão a ocorrer os trágicos acontecimentos dos últimos meses: humilhações contra migrantes, atentados à sua integridade e aos seus direitos, chegando a crimes hediondos contra pessoas apenas por serem diferentes no agir ou no falar. Estes atos demonstram que a burguesia consegue impor os seus mitos e a sua narrativa, colocando parte da classe trabalhadora ao seu serviço – e fortalecendo-se para agir contra ela própria.

É o capital que comanda os países do mundo – os monopólios e as suas camarilhas políticas – a principal força de opressão e exploração. E esta força não deve ser apoiada, mas combatida nas ruas, com o mais elevado grau de organização e consciência de classe. Os operários migrantes precisam também do Partido Comunista. Os operários no seu conjunto, tanto no México como nos EUA, precisam de ter como aliados fundamentais os trabalhadores migrantes.

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