O assassinato da verdade em Gaza: jornalistas, mártires da palavra e da imagem

Um crime à luz do dia, perpetrado dentro de uma unidade médica protegida pelo Direito Internacional Humanitário, insere-se numa campanha longa e sistemática de assassinatos premeditados de profissionais da comunicação em Gaza.

Por Wisam Zoghbour | Gaza
11 de Junho de 2025 | 17h52

Num dos episódios mais brutais da ocupação israelita contra a imprensa palestiniana, drones israelitas assassinaram, a sangue-frio, três jornalistas palestinianos no passado dia 5 de Junho, no pátio do Hospital Al-Ahli (Hospital Baptista), na cidade de Gaza. Outros profissionais da comunicação social ficaram feridos, num ataque flagrante que ignorou por completo a sacralidade da vida humana, a inviolabilidade das instalações médicas e o estatuto de protecção conferido às instituições jornalísticas.

As vítimas deste bombardeamento bárbaro foram:

  • Suleiman Hajjaj, repórter da Televisão Palestina
  • Ismail Baddah, operador de câmara da Televisão Palestina
  • Samir Al-Rifai, jornalista da agência Shams News

Estes três profissionais estavam no terreno, no epicentro da realidade, a documentar os massacres da ocupação e, por esse motivo foram deliberadamente atingidos por projécteis lançados por um drone. Tudo aconteceu sob o silêncio ensurdecedor da comunidade internacional e com a cumplicidade tácita de entidades que se auto-intitulam defensoras dos “direitos humanos”.

Este ataque não é um episódio isolado. Integra-se numa campanha contínua e planeada para a eliminação de jornalistas na Faixa de Gaza — um esforço deliberado para silenciar a palavra, destruir as câmaras e enterrar as testemunhas junto com as vítimas. Desde o início da ofensiva total contra Gaza, já foram mortos 225 jornalistas palestinianos — um número sem paralelo na história contemporânea da comunicação social.

Tudo isto acontece perante os olhos do mundo, sem qualquer reacção efectiva das instituições que tutelam o Direito Internacional. Os responsáveis continuam impunes, apesar das provas documentais — em som e imagem — que comprovam tratar-se de crimes de guerra, cometidos em plena luz do dia, dentro de um espaço médico protegido por convenções internacionais.

Este crime hediondo é uma declaração de guerra à verdade — e a todos os que ousam empunhar uma caneta ou uma câmara. Perante tal barbárie, impõe-se o apuramento responsabilidades éticas, profissionais e humanas:

  • Abertura imediata de uma investigação internacional independente, com o objectivo de levar os responsáveis perante o Tribunal Penal Internacional;
  • Julgamento dos líderes da ocupação como criminosos de guerra, rompendo com a retórica estéril que nunca impediu o derramamento de sangue;
  • Assunção clara de responsabilidades por parte da comunidade internacional e das instituições competentes — nomeadamente a ONU, o Conselho de Segurança e a União Europeia — pondo fim ao silêncio cúmplice que se confunde com participação.

O sangue destes jornalistas mártires não será esquecido. As suas imagens e palavras resistirão à tentativa de apagamento. As suas objectivas, que captaram a barbárie, permanecerão como uma mancha de vergonha sobre a face de um mundo que escolheu calar-se perante o assassinato da verdade.

Hoje, escrevemos não apenas para lamentar os que tombaram, mas para denunciar, alto e bom som, uma ocupação criminosa — e a cobardia de uma comunidade internacional que fecha os olhos. Em defesa de uma profissão que hoje é mais perigosa do que qualquer linha da frente. Em memória dos que tombaram com câmaras nas mãos, e não com armas.~

Fonte: https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/drones-bombas-e-mais-3-jornalistas-assassinados-em-gaza-israel-tambem-extermina-a-verdade/