Deixou-nos Margarida Tengarrinha – Militante comunista e revolucionária

A Iskra inclina-se perante a memória de Margarida Tengarrinha e o seu legado à luta dos trabalhadores e do povo português contra o fascismo, pelo socialismo, durante mais de seis décadas. Ingressou no Partido Comunista Português com a idade de 24 anos, em 1952.

A sua biografia é longa, mas pretendemos aqui realçar apenas três aspetos da sua importante contribuição: para a história dos trabalhadores e a sua luta, para a história de um Partido Comunista principal organização a opor-se ao fascismo durante a clandestinidade; por nunca ter abandonado os princípios do marxismo-leninismo na teoria e na prática;

pela sua dignidade de verdadeira comunista contrária a todo o oportunismo, falsidade ou hipocrisia.

Margarida Tengarrinha era uma intelectual e provinha de um estrato social que não a classe operária. Não obstante, colocou todas as suas forças ao serviço da luta antifascista e pelo socialismo, defendendo a causa da emancipação da classe operária das amarras da exploração capitalista, manifestando assim a craveira de uma verdadeira intelectual comunista caminhando ao lado da classe operária nunca vacilando até aos últimos dias.

Participou em lutas estudantis na década de 50 e tomou parte em movimentos unitários como o MUD e outras organizações da luta pela Paz e os direitos da mulher.

Grande parte da sua vida decorreu no período fascista. Aí desempenhou tarefas do mais variado tipo e levou-as a cabo com um total empenhamento, independentemente da sua natureza. Foi a “companheira” da casa clandestina, tarefa aparentemente modesta mas de um valor crucial para a intervenção do PCP nas duras condições da clandestinidade. Mas, depois, deu a essa tarefa outros rasgos mais criativos, tendo proposto a publicação de uma folha dirigida ao conjunto dessas mulheres de quem não se falava e sobre as quais recaía uma enorme responsabilidade. Pôs ao serviço dessas silenciosas revolucionárias os seus conhecimentos, ajudou a elevar a compreensão do nível político das suas tarefas aliviando a monotonia do seu trabalho.

Dedicou também, com modéstia, as suas competências como artista plástica à falsificação dos documentos que permitiam a circulação “legal” dos camaradas no país e no estrangeiro, juntamente com o companheiro, José Dias Coelho, também ele artista plástico Toda a experiência que adquiriu entregou-a depois a outros camaradas que lhes sucederam na tarefa.

Foi responsável pela redação e publicação do jornal “A Terra” dirigido ao campesinato pobre e assalariados rurais, falando dos seus problemas e exortando-os a lutar ao lado do seu aliado natural, o proletariado das cidades.

As mais dolorosas e difíceis provações por que passou, desde o assassinato do companheiro pela PIDE, a separação das filhas de ambos, não a derrotaram, mas pesaram sempre no seu coração de mulher e mãe. Ela prosseguiu com a mesma firmeza e espírito revolucionário a luta contra o fascismo e a exploração capitalista.

Desempenhou no estrangeiro tarefas na Rádio Portugal Livre emitindo a partir de Argel e apoiou camaradas na recolha e investigação de dados para documentos fundamentais do Partido.

Após o 25 de abril, integrou a Comissão para o Trabalho com os Pequenos e Médios Agricultores e a Comissão para a Reforma Agrária, tendo-se tornado uma especialista de grande nível na questão camponesa e na Reforma Agrária.

Tendo voltado ao Algarve, participou em muitas atividades políticas e culturais na sua região. Ao serviço do conhecimento e da cultura democratizados, lecionou História de Arte na Universidade Sénior de Portimão, não tendo também abandonado a sua atividade criativa no domínio das artes plásticas.

Nos últimos tempos da sua vida, além dos temas das artes plásticas, publicou livros onde deixou gravada a sua experiência dando conta da História que atravessou, dos bons e maus momentos da sua vida política clandestina, como testemunho para o futuro e mostrando aos trabalhadores e ao povo o que custou a luta contra o fascismo e o papel que os comunistas desempenharam nela.

Margarida Tengarrinha, que atravessou momentos difíceis da luta do PCP, manteve sempre bem firmes os seus princípios marxistas-leninistas, tendo sempre em mente a necessidade e inevitabilidade da revolução proletária e da sua preparação, defendeu intransigentemente os princípios leninistas do centralismo democrático, mesmo quando para isso teve de enfrentar conceções diferentes e contrárias até ao final da sua vida. Tinha uma enorme retidão política, ideológica e de caráter.

Margarida Tengarrinha é uma personalidade que se ergue entre os militantes comunistas como um exemplo de mulher e revolucionária, e se ergue também na História do nosso país como comunista exemplar, lutadora pela libertação da opressão do povo pelo fascismo, pelo socialismo e o comunismo.

Honra e glória à camarada Margarida Tengarrinha!