O barulho das revoluções

Qual é de facto a realidade dos «reprimidos» na URSS? Mólotov escreve a este respeito: «Os condenados em todo o período da direção de Stáline, segundo os arquivos abertos na época de Gorbatchov, elevam-se a aproximadamente 600 mil pessoas, incluídos os criminosos militares e os criminosos de direito comum.» O que quer dizer menos de 0,5 por cento da população da URSS.

Constata-se, pois, que mesmo as pessoas que rodeavam Gorbatchov deram números que não têm nada a ver com as dezenas de milhões de vítimas que dissidentes e intelectuais desesperadamente irados contaram pessoalmente.

Quanto às condenações na URSS, é preciso dizer previamente que elas eram inevitáveis, porque a resistência da classe reacionária que tinha perdido o poder era logicamente inevitável. Nenhuma revolução se realiza sem a resistência da contrarrevolução. Toda a revolução gera a contrarrevolução. Karl Marx escreveu a este respeito:

«A revolução provoca uma contrarrevolução poderosa e solidária, gera o inimigo, contra o qual o partido deve lutar, e esta luta fá-lo crescer como partido autenticamente revolucionário

A história das revoluções burguesas nos países capitalistas ocidentais confirma esta relação. Por exemplo, na época da revolução burguesa inglesa do século XVII, que passou por duas guerras civis, em 1642 e em 1648, os exércitos de Cromwell levaram o exército real à derrota e provocaram milhares de vítimas. O próprio rei Carlos I foi preso e, sob pressão das massas populares, executado em 1649.

Durante a revolução burguesa francesa do século XVIII houve também muitas vítimas. A guilhotina então inventada funcionou sem interrupção. Os bebés eram atirados ao rio Sena como «inimigos da revolução». Segundo algumas fontes, «somente na Vendeia contaram-se 90 mil guilhotinados, mortos por balas ou afogados». O rei de França, Luís XVI, foi executado.

Sabe-se que nos Estados Unidos viviam mais de três milhões de índios há 100 anos. Os seus descendentes não ultrapassam hoje um milhão e vivem em campos de concentração chamados, não se sabe porquê, «reservas». Esse genocídio, assim como os das revoluções burguesas, não são tratados de maneira alarmista, não se escreve sobre eles, nem se faz barulho.

Mikhail Kilev, “Khruchov e a desagregação da URSS” – 1.ª edição em búlgaro, em 1997 –, pp. 43/44

http://www.hist-socialismo.com/docs/Khruchoveadesagregacaodaurss.pdf