
22 Meses de Cumplicidade: Porque é que os Media Ocidentais Mudaram Subitamente de Opinião sobre Gaza
Durante 22 meses, os principais meios de comunicação ocidentais mantiveram-se em silêncio ou justificaram as ações de Israel na Faixa de Gaza, apresentando-as como uma “guerra defensiva contra o Hamas”. Agora, subitamente, começam a criticar Telavive e a alinhar-se com os relatos de organizações de direitos humanos e da ONU, denunciando o que muitos já classificam como genocídio.
A mudança coincide com um aparente ajuste de discurso por parte de líderes ocidentais. No entanto, esta nova postura tem sido recebida com ceticismo, pois muitos veem-na como meramente performativa e insultuosa, considerando-a como conivência mediática.
Apesar de Israel ter imposto um cerco total a Gaza por mais de 80 dias — impedindo a entrada de comida, água, eletricidade e combustível — os media só agora começaram a mostrar preocupação. Ainda assim, a fome e as mortes em massa não são fenómenos novos, tendo já sido denunciados por organizações como a B’Tselem, que em 2024 acusou Israel de “fabricar a fome”.
Vários jornalistas palestinianos têm vindo a morrer desde o início da ofensiva. Pelo menos 217 foram mortos desde 7 de outubro de 2023 — o maior número de jornalistas mortos numa guerra em toda a história moderna. Ainda assim, agências como a BBC, AP, AFP e Reuters só agora emitem declarações de solidariedade.
A súbita mudança nos media está a ser acompanhada por políticos como Hillary Clinton e o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, que agora apelam à ajuda humanitária — ao mesmo tempo que continuam a apoiar Israel com armas ou retórica.
O autor argumenta que esta mudança não é autêntica: trata-se de uma tentativa de salvar a imagem pública de governos e meios de comunicação que, durante quase dois anos, foram cúmplices no encobrimento de crimes. Agora que a opinião pública global condena massivamente o que se passa em Gaza, os media tentam reposicionar-se como críticos — mas sem reconhecer a sua responsabilidade.
No fim, diz-se que os media e líderes ocidentais não podem fingir que não sabiam ou que não participaram. No mínimo, devem um pedido de desculpas — não ao seu público, mas aos palestinianos que sobreviveram a esta tragédia.
— Robert Inlakesh é jornalista, escritor e documentarista especializado no Médio Oriente, com foco na Palestina.
Fonte: https://www.palestinechronicle.com/22-months-of-complicity-why-the-media-suddenly-changed-its-mind-on-gaza/