Entrevista com George Mavrikos sobre o Conflito no Médio Oriente


Por Louis Michael Busto Mauleon



Os trabalhadores têm a obrigação de estar na linha da frente na luta contra a agressividade das intervenções estrangeiras”

Pedimos ao Presidente Honorário da Federação Sindical Mundial, George Mavrikos, uma breve declaração sobre o conflito militar entre o Irão e Israel.

O que acontecerá às armas nucleares do Irão?
Nós, enquanto Instituto Internacional dos Trabalhadores (IWI)i, somos contra as armas nucleares, tal como todo o movimento sindical de classe. Esta é uma posição firme e inegociável. No entanto, as teorias dos imperialistas da NATO, dos EUA, da UE e de Israel sobre armas nucleares são mentiras. São desculpas e hipocrisia. Tal como foram mentiras as alegações sobre as “armas de destruição maciça” de Saddam Hussein. Aquilo que dizem sobre democracia e ditadura e sobre tudo o resto é treta. É uma loucura os instrumentos da ditadura capitalista fazerem-se passar por democratas; é absurdo que o pessoal pago pela ditadura dos monopólios nos fale de democracia.

Portanto, tudo isto nada tem a ver com a verdade. O imperialismo e os imperialistas nada têm a ver com a verdade, nem com a democracia, nem com religiões. Todos eles adoram apenas um deus: o lucro.

Então, qual é o quadro geral?
A causa de fundo está nas rivalidades pela hegemonia e poder global. Está a ser produzida uma nova divisão do mundo e cada imperialista luta pela melhor posição possível na meta destas corridas.

Os EUA já infligiram um golpe severo à Alemanha que baseou o seu poder económico durante 40 anos no gás russo barato. Agora, isso acabou. A primeira grande “vitória” dos EUA e do complexo militar-industrial foi à custa dos monopólios alemães.

A segunda é a queda de Al Assad na Síria. Essa mudança na Síria é muito crítica: um ponto de viragem. Hoje a Síria está dividida em três partes: uma sob controlo turco, uma sob controlo dos EUA e outra sob controlo israelita. A ocupação israelita dos Montes Golã faz parte dos planos estratégicos dos sionistas para implementar o chamado “Grande Israel”.

Os confrontos verbais entre Erdogan e Netanyahu não passam de fumo e poeira para confundir. A mudança na Síria, combinada com o golpe contra o Hezbollah e o Hamas, cortou o caminho do Irão e da China em direção à Europa. Esta é a segunda grande “vitória” dos EUA.

Agora chegou a vez do Irão. Um país grande, maior em dimensão do que muitos países da Europa, com uma história e cultura muito mais ricas do que as dos europeus. Com relações amigáveis com a Rússia e a China. Com um regime teocrático. E, mais importante ainda, que aderiu recentemente aos BRICS e apoia a estratégia de desdolarização e a construção de um mundo multipolar. Ou seja, tanto para substituir o dólar, que é impresso sem controlo nos EUA, como para garantir uma rota segura da China para o Ocidente.

Se os EUA atingirem os seus objetivos no Irão abrirão amplamente o caminho para a Coreia e a Tailândia. Novas alianças estão a formar-se ali, outras estão a desmoronar. A Índia é uma noiva cobiçada. O mesmo se aplica ao Paquistão.

Como avalia algumas declarações de iranianos que apoiam o ataque de Israel?
Lemos declarações de forças laborais e outras forças “progressistas” na região que, na prática, apoiam o ataque não provocado de Israel ao Irão. Forças que esperam que os EUA e Israel resolvam os verdadeiros problemas nos seus países?

Propõem que o Irão se renda aos EUA e entregue o poder a outros, como aconteceu na Síria, anteriormente no Iraque, na Líbia, etc. Algo semelhante aos contrarrevolucionários cubanos no exílio, que desde Miami pedem ao governo dos EUA que “democratize” Cuba.

Mais cedo ou mais tarde, a vida irá colocá-los de lado. Concordamos. Todos têm o direito de expressar as suas posições. E nós temos o direito de fazer as nossas observações.

Os trabalhadores, no entanto, que são as vítimas das rivalidades imperialistas, têm a obrigação de ver o quadro geral. De compreender qual é a prioridade, o que é dominante neste momento. Qual é a principal tarefa exigida pelas circunstâncias ede definir a sua posição, antes de mais, como classe para si próprios. Lutar contra a intervenção imperialista. Ser os primeiros a combater a agressividade das intervenções estrangeiras, contra o genocídio que Israel, com a guerra, está a cometer contra parte do povo.

Exigir a eliminação das armas nucleares em todo o lado. E, ao mesmo tempo, construir a frente que lhes permita continuar e culminar a luta de classes para alcançar mudanças sociais a favor das massas populares, para que possam construir, como querem e como sonham, o seu próprio país. Sem exploração nem barbárie capitalista.

Fonte: https://mltoday.com/interview-with-george-mavrikos-on-the-middle-east-conflict/

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