O programa de reformas do estado soviético entrou numa fase decisiva no ano de 1987. Serguei Kara-Murza afirma que foi então que Gorbatchov definiu a perestróika como «uma revolução», ou seja, «os mais altos dirigentes do PCUS viam agora a tarefa não num processo gradual de reformas, mas na transformação da sociedade através da quebra e ruptura com a continuidade».
Neste sentido, Kara-Murza considera que «a perestróika se inclui na categoria das «revoluções feitas a partir de cima» (…), «nas quais as camadas dirigentes, utilizando o aparelho do Estado, têm um papel decisivo».
Entre outros aspectos, que serão aprofundados mais adiante neste trabalho, o autor nota que a «perestróika fez parte integrante do conflito mundial – a guerra-fria», e que «no seu desenvolvimento e aproveitamento dos resultados, as forças políticas estrangeiras desempenharam um importante e activo papel».
Como força motriz desta «revolução», surgiu «uma invulgar aliança» dos seguintes grupos sócioculturais: «parte da nomenclatura do Estado e do Partido, ansiosa por superar o amadurecimento de uma crise de legitimidade e conservar a sua situação (mesmo que para isso tivessem de trocar de máscara ideológica); parte da inteligentsia, seduzida pela utopia liberal do Ocidente (moviam-na vagos ideais de liberdade e de democracia e a visão de prateleiras repletas de produtos); e camadas criminosas ligadas à economia paralela».
Em geral, conclui Kara-Murza, «todos estes sujeitos activos da perestróika obtiveram no final aquilo que pretendiam. Os grupos da economia paralela e a nomenclatura acederam à propriedade e dividiram entre eles o poder, a inteligentsia – prateleiras repletas e a liberdade de atravessar a fronteira».
Recensão de CN, Abril 2004, da obra de Serguei Kara-Murza A Civilização Soviética, Algoritm, Moscovo, 2002, publicada em http://www.hist-socialismo.com/docs/ACivilizacaoSovietica.pdf, p. 4.