
Artigo publicado no Rizospastis, órgão do Comité Central do KKE, na quarta-feira, 17 de dezembro de 2025:
O Tribunal Militar Central do Distrito de Ecaterimburgo, na Rússia, concluiu o julgamento de cinco membros de um grupo de estudo marxista da cidade de Ufa. Os arguidos tinham sido oficialmente classificados como “terroristas” e “extremistas” ainda antes do início do julgamento e foram inscritos no registo do Serviço Federal de Monitorização Financeira (Rosfinmonitoring).
Os cinco homens, que se encontram detidos desde fevereiro de 2022, negaram de forma consistente todas as acusações ao longo do processo e denunciaram ter sido sujeitos a tortura durante a sua detenção.
Segundo o tribunal, o grupo reunia-se desde 2016 no Museu Estaline, em Ufa, onde estudava as obras de Karl Marx, Friedrich Engels, Vladimir Lenine e Josef Estaline.
Testemunhos de agentes da segurança que vigiavam o grupo alegaram que, através do estudo da teoria marxista, os seus membros concluíram que uma revolução era necessária na Rússia. Durante a detenção, realizada na casa de um dos membros do grupo — que anteriormente tinha combatido como voluntário no Donbass — os serviços de segurança afirmaram ter encontrado duas granadas de mão e uma arma de caça. O arguido declarou que as armas tinham sido colocadas pelas próprias autoridades.
Numa tentativa de associar todos os membros do grupo a acusações relacionadas com terrorismo, as autoridades judiciais encomendaram um “painel de peritos” para sustentar alegações de “atividade terrorista”, baseando-se em gravações de vídeo de palestras organizadas pelo grupo e na literatura utilizada.
O painel concluiu que O Estado e a Revolução, a obra política fundamental e amplamente conhecida de Lenine, constitui um “manual terrorista”, conclusão que foi usada para justificar as condenações.
O tribunal acabou por condenar os cinco arguidos a penas de prisão entre 16 e 22 anos por “atividade terrorista”.
Repressão anticomunista na Rússia contemporânea
“Chamam terroristas aos comunistas. Já não tenho forças — sou velho e doente. Não me torturem, disparem simplesmente. Não compreendo de que sou acusado”, afirmou o pensionista Yuri Efimov na sua declaração final em tribunal. Foi condenado a 18 anos de prisão.
“Estou listado no site Myrotvorets”, disse Pavel Matisov, condenado a 22 anos. “Diz lá que sou terrorista. É absurdo — ser rotulado de terrorista tanto ali como aqui.” (O Myrotvorets é uma base de dados compilada por grupos nacionalistas ucranianos, com apoio governamental, que lista pessoas consideradas ‘indesejáveis’, incluindo membros do Partido Comunista da Grécia.)
Rinat Burkeev, condenado a 16 anos de prisão, classificou o veredicto como “um ato de retaliação política contra o legado de Lenine. Isto é descomunização, levada a cabo num país que outrora derrotou o fascismo. Só alguém movido por ódio político contra Lenine, Estaline e Karl Marx poderia conduzir um processo deste tipo”.
O veredicto é amplamente visto como mais um sinal da trajetória anticomunista e antidemocrática da Rússia burguesa contemporânea.




