Comentário do IRS do CC do KKE

02.09.2025
A cimeira da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) foi utilizada para fomentar novas ilusões entre os povos. Certas forças veem o imperialismo apenas como o “império” dos EUA e, com base nisso, saúdam a ascensão de novas potências capitalistas emergentes nos assuntos globais, como o surgimento de novas uniões interestatais (BRICS, Organização de Cooperação de Xangai, Organização do Tratado de Segurança Coletiva, ALBA, etc.), formadas por Estados capitalistas, com conteúdo económico, político e militar.
Estes desenvolvimentos são apresentados como o início da emergência de um novo “mundo multipolar”, que supostamente “reformará” e dará “nova vida” à ONU e a outras organizações internacionais, libertando-as da “hegemonia” dos EUA. A conclusão dessas teses é que, dessa forma, a paz será garantida.
Defende-se que as novas contradições interimperialistas e o aparente realinhamento do sistema global poderiam conduzir à “democratização” das relações internacionais, com o fortalecimento da Rússia, da China, do Brasil e de outros Estados, perante o relativo recuo da posição dos EUA. Neste quadro, surgem também propostas como o alargamento do Conselho de Segurança da ONU.
Coloca-se, então, a questão: poderá um papel global reforçado da União Europeia (como defendeu o SYRIZA e o Partido da Esquerda Europeia), ou mesmo da Rússia e da China, tal como proclamam os apologistas do eixo imperialista eurasiático em formação, criar um ambiente internacional “mais pacífico”?
A realidade objetiva e a experiência internacional dão uma resposta negativa. Isto porque as guerras imperialistas não resultam da correlação específica de forças entre Estados capitalistas num determinado momento, mas sim das próprias leis do capitalismo: desenvolvimento desigual, concorrência, tendência para obter lucros adicionais. É com base nisto que as contradições inter-imperialistas se produzem, reproduzem e modificam, em particular no que toca às matérias-primas, à energia, às redes de transporte, à luta pelas quotas de mercado. É a concorrência monopolista que conduz a intervenções e guerras, locais e generalizadas.
A retórica sobre uma “nova governação global democrática”, difundida por forças social-democratas e oportunistas, visa apenas dar uma roupagem ideológica à nova correlação de forças dentro da barbárie capitalista-imperialista, desviando os trabalhadores. Trata-se, portanto, de um branqueamento enganador do capitalismo, que alimenta a ilusão de que o imperialismo — isto é, o capitalismo no seu estágio monopolista — pode ser “pacífico” para os povos.
As guerras anteriores, como a Segunda Guerra Mundial, também foram desencadeadas em nome da correção de tratados injustos ou da prevenção de novos conflitos. É urgente libertar os trabalhadores de tais ilusões e armadilhas sobre a “democratização” do capital e das relações internacionais, que apenas os alinham com interesses alheios aos seus.
A ideia de que o “mundo multipolar” é garantia de paz e de defesa dos interesses populares é uma falácia. Na prática, trata o inimigo como aliado, aprisiona as forças populares na escolha entre um ou outro bloco imperialista e paralisa o movimento operário.
É igualmente importante clarificar o que significa “imperialismo”. Se aceitarmos a definição científica de Lenine — o capitalismo no seu estádio superior, monopolista — torna-se evidente que uma potência capitalista como a Rússia, onde dominam os monopólios, não pode ser considerada anti-imperialista.
Forças que abandonam esta compreensão leninista e identificam o imperialismo apenas com a política externa agressiva dos EUA, acabam por cometer graves erros políticos. Exemplo disso é a caracterização da Turquia como “força anti-imperialista” apenas porque confronta Israel, esquecendo-se que continua membro da NATO, ocupa militarmente 40% de Chipre e ameaça a Grécia com guerra (casus belli) caso esta aplique o Direito do Mar no Egeu.
O simples agravamento das contradições interimperialistas e da guerra imperialista não altera por si só a correlação de forças a favor da classe trabalhadora, como ficou demonstrado na Síria, na Ucrânia e noutros países. Condição indispensável é a existência de partidos comunistas fortes, com uma estratégia revolucionária elaborada e enraizados no movimento operário e popular, capazes de orientar as massas insurgentes para o objetivo do derrubamento da barbárie capitalista.
Fonte: https://inter.kke.gr/en/articles/Using-the-multi-polar-world-to-whitewash-capitalism/