Israel Imperial e a Guerra pelo Médio Oriente

Estamos agora a testemunhar a ascensão de um Israel imperial. Um novo statu quo está a ser construído — orquestrado pelos Estados Unidos, Israel e os seus aliados na região e na Europa. O mundo está mergulhado numa guerra permanente e num genocídio contínuo. O que estamos a ver não é temporário. Não há caminho de regresso.

A transformação de Israel de um Estado colonial de povoamento para uma potência imperialista expansionista está em pleno andamento. Nos últimos 600 dias, Israel bombardeou Gaza, Síria, Líbano, Irão, Iémen e até a costa de Malta. Está a incendiar o mundo para proteger a sua campanha genocida, sob o pretexto de segurança e autodefesa.

Uma Entidade Psicopática


Israel tornou-se, para muitos, uma entidade psicopática — mata como respira. Um dos exemplos mais horríveis surgiu hoje: cerca de 60 pessoas, incluindo 20 crianças, foram mortas num ataque a um complexo habitacional em Teerão. O exército israelita adicionou crianças iranianas à longa lista de vítimas, que já inclui civis, cientistas nucleares e diplomatas.

Entre os mortos está Ali Shamkhani, que liderava as negociações nucleares do Irão. Horas antes do ataque, ele falava de paz:

“Sim, estamos prontos. Podemos definitivamente ter melhores relações com os EUA.”
Shamkhani descreveu a disposição do Irão em abdicar de armas nucleares, eliminar o seu stock de urânio enriquecido, permitir inspeções internacionais — tudo em troca do levantamento imediato das sanções.


Os Dois Pesos e Duas Medidas do Ocidente


Apesar disso, Israel bombardeou uma instalação nuclear iraniana. Se qualquer outro país cometesse tal ato, o mundo condená-lo-ia sem hesitação. Mas no caso de Israel, a resposta é o silêncio — ou pior, a colaboração. Um porta-voz de Downing Street confirmou que o Primeiro-Ministro britânico Rishi Sunak, o Presidente francês Emmanuel Macron e o Chanceler alemão Friedrich Merz reafirmaram o direito de Israel à autodefesa.

Nenhuma menção foi feita ao arsenal nuclear de mais de 200 ogivas, que Israel possui mas nunca declarou oficialmente — obtido por meios de espionagem. Jonathan Pollard, um espião israelita infiltrado nos EUA, roubou segredos militares, incluindo informações sobre armamento nuclear, e entregou-os a Israel. Após quase 30 anos de prisão, foi libertado e autorizado a viajar — um gesto amplamente visto como uma oferta de despedida da administração Trump.

Informadores Silenciados


Quem tentou expor o programa nuclear israelita pagou um preço elevado. Mordechai Vanunu, técnico nuclear, revelou segredos ao jornal The Times. Foi rapidamente sequestrado pelo Mossad, sedado e levado de volta a Israel, onde passou anos em confinamento solitário. Hoje, está impedido de sair do país ou de contactar estrangeiros.

Enquanto isso, Israel justifica ataques “preventivos” ao Irão, apesar de manter uma doutrina militar chamada Opção Samson — que prevê o uso de armas nucleares se o país se sentir ameaçado existencialmente. O Irão, por seu lado, não possui armas nucleares nem qualquer política equivalente. Está a ser visado não pelo que fez, mas pelo que representa: um apoiante determinado da causa palestiniana.

O Compromisso do Irão com a Palestina


O apoio do Irão à libertação da Palestina não é simbólico — é estratégico e material. Talal Naji, Secretário-Geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina, confirma que o Irão treinou, armou e financiou os grupos de resistência. Relata que foi Qassem Soleimani quem supervisionou pessoalmente o envio de mísseis Kornet russos, que destruíram tanques Merkava israelitas.

O antigo líder do Hamas, Aouri, foi claro:

“O Irão foi o único país no mundo com um orçamento dedicado especificamente à libertação da Palestina.”
O líder revolucionário iraniano, Ruhollah Khomeini, reforçou esta visão:

“Apoiamos todos os povos oprimidos. Os palestinianos são oprimidos pelos israelitas, por isso estamos com eles.”
Advertiu ainda que o objetivo das potências ocidentais, ao criarem Israel, não se limitava à Palestina. O plano, afirmou, era estender o domínio a todo o mundo árabe — uma visão agora a materializar-se através do chamado projecto da Grande Israel.


A História da Intervenção Estrangeira


A mudança de regime no Irão não é um plano novo. Na década de 1950, Mohammad Mossadegh, um líder democraticamente eleito, foi derrubado num golpe organizado pela CIA e pelos serviços britânicos. O seu “erro”? Tentar nacionalizar o petróleo iraniano para o bem do povo. O beneficiário foi a então Anglo-Iranian Oil Company — hoje BP. O xá foi então instalado. Hoje, o seu filho procura retomar o poder.

Agora, os EUA e Israel falam abertamente de uma confrontação mais ampla — que inclui a China e a Rússia. Alex Karp, CEO da Palantir, empresa ligada à CIA e crucial para a campanha militar israelita em Gaza, declarou:

“Tenho muito orgulho no que fazemos no campo de batalha — matar os nossos inimigos e assustá-los… essa é a minha agenda.”
As Consequências Globais
Isto não se trata apenas de Gaza ou Teerão. Esta guerra visa remodelar a ordem mundial, com Israel como ponta de lança. A normalização do assassinato de crianças — na Palestina, no Iémen, na Síria, no Líbano e agora no Irão — corrói a nossa humanidade. Quanto mais tempo isto durar, mais fácil será justificar futuras atrocidades noutros lugares.

Contudo, embora esta política seja promovida por alguns dos governos mais impopulares da história, a maioria esmagadora das populações em todo o mundo opõe-se a esta guerra. A nossa tarefa é falar, organizar e resistir — antes que mais vidas se percam e mais limites sejam ultrapassados.

Isabel Lourenço

Foto: https://expresso.pt/internacional/medio-oriente/guerra-israel-hamas/2024-10-01-irao-retalia-contra-israel-e-um-ponto-de-viragem-estamos-num-momento-perigosamente-imprevisivel-35285397