Sobre o imperialismo – a pirâmide imperialista

«O termo imperialista tornou-se uma moda recentemente na Europa e na Grécia entre as forças que não o usaram com tanta frequência ou tão facilmente em anos anteriores. O problema é que o imperialismo se apresenta como algo diferente e distinto do capitalismo, como um conceito político separado da base económica, posição que foi fortemente apoiada pelo pai do oportunismo, Kautsky.»

Nos dias 11 e 14 de abril de 2013, realizar-se-á o 19º Congresso do KKE, cujo tema básico, para além do relatório das atividades e tarefas até ao próximo 20º Congresso, é a elaboração do Programa do Partido e dos seus Estatutos.

Uma das questões levantadas pelo oportunismo contra o Partido é a nossa avaliação (que aliás não é nova, uma vez que é mencionada no atual Programa e foi elaborada no 15º Congresso, em 1996) de que o capitalismo grego está na fase imperialista de desenvolvimento e que ocupa uma posição intermédia no sistema imperialista internacional com uma forte dependência dos EUA e da União Europeia.

Atacam a posição de que a luta pela defesa das fronteiras, dos direitos soberanos da Grécia, do ponto de vista da classe trabalhadora e dos setores populares, está intrinsecamente ligada à luta pelo derrubamento do poder do capital. O povo grego não deve defender os planos de guerra de um ou outro polo imperialista, a rentabilidade de um ou outro grupo monopolista.

O KKE tem uma rica experiência que confirma plenamente a posição leninista sobre a relação entre o imperialismo – o estágio mais alto do capitalismo – e o oportunismo no movimento operário, que é um assunto que diz respeito não apenas à Grécia, mas a todos os países capitalistas. Não é por acaso que a essência económica do imperialismo, que é monopolista com os seus traços característicos, é subestimada ou posta de lado também pelos partidos comunistas que aderiram ao oportunismo antes ou, principalmente, depois da vitória da contrarrevolução nos países socialistas.

A conceção oportunista do imperialismo e a negação da existência de um sistema imperialista internacional (pirâmide imperialista)

O termo imperialista tornou-se uma moda recentemente na Europa e na Grécia entre as forças que não o usaram com tanta frequência ou tão facilmente em anos anteriores. O problema é que o imperialismo se apresenta como algo diferente e distinto do capitalismo, como um conceito político separado da base económica, posição que foi fortemente apoiada pelo pai do oportunismo, Kautsky. O oportunismo é, entre outras coisas, incapaz de modernização; ele repete Kautsky, recorre a argumentos anticientíficos, concentra-se deliberadamente na superfície e não na essência. Não é do seu interesse e, portanto, eles não podem ver todo o quadro da economia capitalista mundial nas suas relações internacionais mútuas. Quem não quer entender a essência económica do imperialismo e ver nessa base a superestrutura ideológica e política, no final absolve-o, sustenta-o e semeia ilusões entre as massas trabalhadoras e populares de que há bom e mau capitalismo, boa e ineficaz gestão burguesa. Em última análise, o oportunismo quer uma sociedade capitalista sem os supostos desvios, chamando desvios às próprias leis da economia capitalista e suas consequências. Esconde dos povos a essência de classe da guerra, pois critica-a do ponto de vista moral, por causa das suas trágicas consequências. Semeia a ilusão de que o capitalismo pode garantir a paz se se impuserem princípios da igualdade e da liberdade, de entendimento político entre os países capitalistas rivais se forem estabelecidas regras na concorrência intercapitalista.

O oportunismo, o reformismo repete com estilo inovador a conceção velha e antiquada de que o imperialismo se identifica com a agressão militar contra um país, a política de intervenções militares, com os bloqueios, com o esforço de reativar a velha política colonial. Na Europa, os oportunistas identificam o imperialismo com a Alemanha e com o dogmático, segundo eles, ponto de vista liberal autoritário. A política dos EUA sob o governo Obama é considerada progressista por causa de diferenças parciais com a Alemanha sobre a gestão da crise, ou é considerada imperialista apenas em relação à América Latina. Qualquer tentativa da classe trabalhadora, por exemplo na França ou na Itália, de confrontar o antagonismo com o capitalismo alemão é considerada progressista. O oportunismo na Grécia tem como posição fundamental que o país está sob ocupação alemã, que foi transformado ou está a ser transformado numa colónia, que está a ser saqueado pela senhora Merkel e pelos credores. O principal inimigo, além da própria Alemanha, é a tríade União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional que supervisiona e determina a gestão da dívida externa e interna e do défice fiscal. Acusam a burguesia do país e os partidos do governo de serem traidores, antipatrióticos, subordinados e subservientes à Alemanha, aos credores ou aos banqueiros.

Eles criticam o KKE pelas suas avaliações do capitalismo grego no sistema imperialista internacional, que eles não aceitam que exista. Consideram a Grécia um país ocupado principalmente pela Alemanha e que o regime é neocolonial.

Eles usam arbitrariamente a avaliação de Lenine na sua obra conhecida como Imperialismo, o Estágio Superior do Capitalismo, de que um pequeno número de Estados saqueia a grande maioria dos Estados do mundo. Como consequência, o imperialismo é identificado com um número muito pequeno de países, que podem ser contados pelos dedos de uma mão, enquanto todos os outros países são subordinados, oprimidos, colónias, países ocupados devido à subordinação à visão liberal.

Hoje, há poucos países no topo, nas posições superiores do sistema imperialista internacional (o que também é ilustrado pelo diagrama de uma pirâmide para mostrar os diferentes níveis ocupados pelos países capitalistas). Pode-se até dizer que são um punhado de países, segundo a expressão leninista. No entanto, isso não significa que os outros Estados capitalistas sejam vítimas dos poderosos Estados capitalistas, que a burguesia da maioria dos países tenha sucumbido à pressão, apesar do seu interesse geral, que se corrompeu. Isso não significa que a luta dos povos na Europa deva ser numa direção anti-alemã, e que no continente americano deva ser dirigida apenas contra os Estados Unidos. Não é por acaso que os oportunistas na Grécia dão como exemplo positivo a superação da crise no Brasil e na Argentina e exaltam a política de Obama.

A sua insistência de que não há pirâmide imperialista, ou seja, que não há sistema imperialista internacional (mas apenas um número muito pequeno de países que podem ser classificados como imperialistas principalmente pela sua posição hegemónica e a sua capacidade de decidir lançar uma guerra local ou generalizada), não é acidental ou produto de uma opinião equivocada; é consciente. Daí deriva a sua disposição de assumir responsabilidades num governo burguês para administrar a crise.

O principal é que defendem a existência de uma etapa entre capitalismo e socialismo, com um objetivo claro. Por um lado, garantir que a classe trabalhadora renuncie à luta pelo poder dos trabalhadores e, por outro, prometer que no futuro distante e indefinido o capitalismo será transformado pacificamente, através de reformas e sem sacrifício, em socialismo, no seu socialismo, no qual a propriedade capitalista coexistirá com algumas formas de autogestão.

Note-se que, quando falam de uma Grécia independente e digna que resiste a Merkel, deixam claro que o país deve permanecer na União Europeia como Estado-membro, enquanto espera que a NATO se dissolva, dissociando-se das dependências e compromissos político-militares que impõe.

Dizem que a Grécia, sempre como membro da União Europeia e da NATO, pode procurar empréstimos, créditos, investimentos de outros Estados como os EUA, a Rússia e a China, enquanto consideram que os governos do Brasil e da Argentina conseguiram a libertação dos seus povos do FMI. Como se os investimentos desses Estados não se baseassem na obtenção do maior lucro possível e no uso de mão de obra barata, no uso a longo prazo dos recursos naturais e das matérias-primas locais até que se esgotem.

Dizem até que a restauração capitalista nos países socialistas aboliu a Guerra Fria e que o mundo se tornou melhor porque é multipolar, ou seja, tem muitos centros e novas potências. No entanto, esquece que esses novos centros e poderes se baseiam no desenvolvimento das relações capitalistas de produção, no domínio dos monopólios na economia, ou seja, que são novas potências imperialistas emergentes. Em conclusão, o mundo não se tornou melhor, nem mais promissor – embora o conflito entre imperialismo e socialismo já não exista – como afirmam os apologistas do capitalismo.

O oportunismo justifica sua trajetória descendente interpretando de modo arbitrário citações de Marx e Lenine

Devido à existência e atividade do KKE, e principalmente por causa das suas táticas aventureiras, eles aparecem como substitutos do movimento comunista, invocam fragmentos de Lenine, e mesmo de Marx e Engels para acusar o nosso Partido de ter abandonado o socialismo científico.

Hoje é absolutamente necessário recordar alguns elementos básicos do conceito leninista de imperialismo que foram confirmados, bem como destacar os desenvolvimentos que estão a acelerar e e tornar ainda mais imperativo do que antes identificar a luta anti-imperialista com a luta anticapitalista. A resposta ao capitalismo não é, entre outras coisas, o retorno impossível à época do capitalismo da livre concorrência, das empresas capitalistas dispersas, mas a necessidade e a validade do socialismo, a aquisição de preparação em condições de situação revolucionária. Uma preparação que, claro, não pode ser conciliada com o oportunismo na luta diária.

Mesmo se imaginarmos o inimaginável, ou seja, se fosse possível regressar ao capitalismo da livre concorrência, isso inevitavelmente levaria novamente ao nascimento dos monopólios. As grandes empresas têm dentro de si a tendência de se tornarem um monopólio. Marx já tinha deixado claro que a livre concorrência cria o monopólio.

A história tem mostrado que o monopólio, como consequência da concentração do capital, como lei fundamental da atual fase do capitalismo, é uma tendência geral em todo o mundo e pode coexistir com formas pré-capitalistas de economia e propriedade. No final do século XIX, a crise económica acelerou a criação de monopólios, como todas as crises económicas cíclicas que aceleraram a concentração e a centralização e a ascensão de poderosos monopólios, reproduzindo a concorrência num nível mais elevado. A emergência dos monopólios e o seu desenvolvimento, expansão e penetração não se dão simultaneamente em todos os países, nem mesmo nos países vizinhos, mas certamente se dá da mesma forma, com a exportação de capitais que prevalecem sobre a exportação mercadorias. O surgimento e o fortalecimento de monopólios, ainda que limitados a determinados setores a nível nacional, acabam por causar anarquia no conjunto da produção capitalista. Isso foi particularmente característico no século XX e até os dias de hoje: o desequilíbrio no desenvolvimento entre a produção industrial e agrícola, o desequilíbrio no desenvolvimento entre setores da indústria. O desequilíbrio não tem a ver apenas com os setores de produção, mas também com o desequilíbrio na aplicação e uso da tecnologia. A política de saque, de anexações, de conversão de Estados em protetorados, a política de desmembramento de Estados não é resultado de imoralidade política por parte dos poderosos imperialistas, nem é uma questão de subordinação e covardia por parte da burguesia do país em dependência. É uma questão que tem a ver com a exportação de capital e a desigualdade inerente ao capitalismo ao nível nacional e internacional.

A Grécia é um dos exemplos característicos que, sem dúvida, tem um valor universal, uma vez que o fenómeno não é meramente grego. O nosso país possui um potencial produtivo significativo, que, no entanto, se desenvolveu seletivamente no curso do desenvolvimento capitalista, enquanto a incorporação do país na União Europeia e a sua relação com o mercado capitalista mundial em geral levou a um uso ainda mais restritivo dos seus recursos naturais. Resumidamente, deve-se notar que a Grécia tem recursos energéticos importantes, recursos minerais importantes, produção industrial e agrícola, artesanato, ou seja, recursos que podem cobrir grande parte das necessidades das pessoas, como a necessidade de alimentos, energia, transporte, construção de obras públicas, infraestruturas e habitação popular. A produção agrícola pode apoiar a indústria em vários setores. No entanto, a Grécia, não só em resultado da crise, mas de todo o percurso de assimilação pela pirâmide imperialista, deteriorou-se ainda mais. Depende das importações, enquanto os produtos gregos não se vendem e são enterrados.

Esta é uma característica que mostra as consequências da propriedade capitalista e da concorrência capitalista, tanto a nível europeu como a nível mundial.

Assim como Kautsky, o oportunismo contemporâneo divide o capital em secções separadas, concentra a sua crítica numa das suas formas.

Lembremo-nos de que Kautsky considera inimigo apenas uma parte do capital, o capital industrial, que, com a sua política imperialista, lança o seu ataque em primeiro lugar contra as zonas rurais, criando assim um desequilíbrio entre o desenvolvimento da indústria e o da agricultura. Isso é suposto ser um desvio estrutural. Os oportunistas contemporâneos afirmam mais ou menos as mesmas posições, centrando as suas críticas no sistema bancário, nos banqueiros, no capital bancário, sem levar em conta a fusão do capital bancário com o capital industrial, embora se apresentem como marxistas. Os desequilíbrios que aparecem mesmo nos países capitalistas desenvolvidos nos diferentes ramos e setores são atribuídos à irracionalidade ou a uma tendência para a especulação que consideram imoral, pois fazem uma distinção entre rentabilidade e especulação.

Mas a posição de que a exportação de capital era direcionada exclusivamente para o meio rural não se confirmou nem mesmo no período em que o oportunista Kautsky estava no seu apogeu. Também nessa altura, a política das chamadas anexações, utilizando o capital financeiro como alavanca, afetou também as zonas industriais. Se o capitalismo, na sua fase imperialista, apoiasse todo o potencial de desenvolvimento de todos os países, sem exceção, então não teria tal nível de acumulação capitalista para exportar capital e explorar as matérias-primas e a classe trabalhadora de um grande número de países, mantendo-os vinculados por uma variedade de relações de dependência e interdependência.

Invocação do patriotismo para justificar a estratégia da burguesia de retirar o máximo partido possível da nova distribuição em condições de implacável rivalidade imperialista

Os oportunistas e os partidos nacionalistas na Grécia clamam que a burguesia, o Estado grego e os partidos burgueses não são patriotas, mas traidores. Na realidade, a burguesia do nosso país, assim como os seus partidos, estão bem cientes de que, mesmo em condições de desigualdade, é preferível aderir a uma união imperialista, porque é a única maneira de reivindicar uma parte dos despojos e esperar ter apoio político-militar externo se o sistema começar a tremer e, se a luta de classes se intensificar, impedir e esmagar o movimento com a ajuda dos mecanismos militares da União Europeia e da NATO. O patriotismo da burguesia identifica-se com a defesa do sistema capitalista apodrecido.

Em condições em que as contradições interimperialistas e mundiais levem a um conflito militar, então a burguesia da Grécia terá de escolher o lado de um imperialista poderoso, qual a aliança imperialista que vai lutar pela redistribuição dos mercados na esperança de tomar nem que seja uma pequena parte.

É impossível para a burguesia defender direitos soberanos em nome do povo. Fá-lo-á apenas para os seus próprios interesses. Se necessário, ela até ignorará os seus interesses particulares para não perder o poder, para mantê-lo tanto quanto seja possível.

A teoria de um punhado de países dominantes

Quando Lenine falou de um punhado de países saqueando um grande número de países, ele destacou com muitos exemplos e detalhes uma variedade de formas de pilhagem de países coloniais, semicoloniais ou mesmo não coloniais. No topo da pirâmide está um pequeno número de países, pois o capital financeiro (uma das cinco características básicas do capitalismo na fase imperialista como a fusão do capital bancário com o capital industrial) está a espalhar os seus tentáculos por todos os países do mundo.

A posição de um “punhado de países” define as diferentes formas de relações entre países capitalistas que se caracterizam pela desigualdade. É o que a pirâmide descreve para ilustrar a economia capitalista mundial.

Em primeiro lugar, Lenine deixou claro que o imperialismo é o capitalismo monopolista, é a economia capitalista mundial, é o prólogo da revolução socialista em todos os países.

Lenine esclareceu as características do imperialismo: a concentração da produção e do capital, a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação da oligarquia financeira, a exportação do capital, a criação de uniões monopolistas internacionais. Não se trata de uma política de anexações, de dependências do ponto de vista moral, ou de um fenómeno que reflita uma certa visão política no âmbito do sistema político burguês, algo que os oportunistas sistematicamente fazem. Liga diretamente o imperialismo nas relações internacionais com a ascensão do capital financeiro na fase imperialista do capitalismo e com a sua necessidade imperiosa de expandir continuamente o terreno económico para além das fronteiras nacionais, a fim de retirar de lá os antagonistas. A retirada do antagonista poderia ser feita mais facilmente através da colonização, bem como através da transformação de uma colónia num Estado politicamente independente, retirando do caminho o país capitalista-metrópole, cuja posição seria ocupada por outra potência capitalista emergente através da exportação de capital e investimento estrangeiro direto. A posição diferente da Grã-Bretanha colonialista e da Alemanha emergente como potência imperialista é importante e ilustrativa.

A redivisão do mundo no final do século XIX e início do século XX de que falava Lenine, ocorreu entre os países capitalistas mais poderosos. No entanto, no jogo do rateio, da formação da correlação negativa geral de forças, outros Estados capitalistas também estiveram envolvidos, não permaneceram passivos. Os países capitalistas fortes dividiram não apenas as colónias, mas também os países não coloniais enquanto, além das grandes potências coloniais, havia países coloniais menores através dos quais a nova expansão colonial começou. Há até menções a pequenos Estados que mantiveram colónias quando as grandes potências coloniais não conseguiram chegar a um acordo sobre a partição.

Além disso, Lenine ressaltou que a política colonial existia mesmo em sociedades pré-capitalistas, mas o que distingue a política colonial capitalista é que ela é baseada no monopólio. Ele sublinhou que a variedade de relações entre os Estados capitalistas no período do imperialismo tornam-se um sistema geral, constituem parte da totalidade das relações de divisão do mundo, tornam-se elos nas cadeias de operações do capital financeiro mundial. No período a que Lenine se refere, e ainda mais hoje, relações de dependência e pilhagem de matérias-primas também existem às custas de não-colónias, ou seja, Estados politicamente independentes.

Após a Segunda Guerra Mundial e o estabelecimento do sistema socialista internacional, o agrupamento máximo do imperialismo contra as forças do socialismo-comunismo foi necessariamente realizado e a sua agressividade, o seu expansionismo económico, político e militar multifacetado intensificaram-se. Sob o impacto da nova correlação de forças, começou rapidamente o desmantelamento dos impérios coloniais, os impérios francês e britânico. Os Estados capitalistas mais poderosos foram forçados a reconhecer a independência dos Estados nacionais, sob a pressão dos movimentos pela independência nacional que contavam com o múltiplo apoio e solidariedade dos países socialistas, dos movimentos operários e comunistas.

No pós-guerra, vários países não foram plenamente incorporados nos órgãos político-militares e económicos do imperialismo, pois tinham a possibilidade de estabelecer relações económicas com os países socialistas, apesar de a correlação de forças permanecer favorável ao capitalismo. Reafirma-se a variedade de relações, interdependências e obrigações no âmbito do mercado capitalista mundial.

Na última década do século XX, a situação começou a mudar como resultado de dois fatores interagindo entre si, mas cada um com a sua autonomia relativa. Os países capitalistas mais maduros e poderosos, que estão no topo da pirâmide, com um ponto de partida histórico diferente, mas com o mesmo objetivo estratégico, seguem uma política diferente em favor dos monopólios, especialmente sob o impacto da crise económica capitalista de 1973. Em condições de crescente concorrência e de internacionalização mais rápida, a estratégia contemporânea que sustenta a rentabilidade capitalista abandona as receitas neokeynesianas que foram úteis sobretudo em países que sofreram danos bélicos. Procedeu a amplas privatizações, fortaleceu a exportação de capital, reduziu e aboliu gradualmente as concessões que fizera principalmente no setor social, com o objetivo de deter o movimento operário influenciado pelas conquistas do socialismo e, especialmente, comprar uma parte da classe trabalhadora e dos setores sociais intermédios.

Isso também é demonstrado pelo facto de a política pró-imperialista contemporânea ter um caráter mundial; não é uma forma de gestão a curto prazo, mas uma escolha estratégica, dado que estão a ser adotadas medidas anti-populares e anti-laborais para contrariar a tendência decrescente da taxa de lucro em quase todos os países, não só na União Europeia, mas também fora dela, especialmente na América Latina. As medidas destinadas a eliminar as conquistas laborais são tomadas por governos liberais e social-democratas, tanto de centro-esquerda como de centro-direita.

A restauração capitalista deu ao imperialismo a oportunidade de lançar uma nova onda de ataques com menos resistência, auxiliada pelo oportunismo que se tinha fortalecido, enquanto novos mercados se formavam nos antigos países socialistas. Como resultado, a unidade entre as principais potências contra o socialismo, que colocava as contradições entre elas em segundo plano, foi enfraquecida. Uma nova rodada de contradições interimperialistas irrompeu sobre a divisão de novos mercados, levando a guerras nos Balcãs, na Ásia, no Médio Oriente e no Norte da África. Estados que não faziam parte das uniões interestatais imperialistas também participaram nessa guerra. Isso mostra que o sistema imperialista existe como um sistema mundial. Isto inclui todos os países capitalistas, mesmo aqueles que são atrasados ou têm restos de formas pré-capitalistas de economia. As principais potências estão no topo; existe uma forte concorrência entre elas e os acordos alcançados são temporários.

No final do século XX, havia três centros imperialistas desenvolvidos principalmente após a Guerra Mundial: a Comunidade Económica Europeia, que mais tarde se tornou a União Europeia, os EUA e o Japão. Hoje, os centros imperialistas aumentaram e novas formas de alianças surgiram, como a aliança que tem a Rússia no seu núcleo, a aliança de Xangai, a aliança do Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul (BRICS), a aliança dos países da América Latina (Mercosul, ALBA) etc.

A política imperialista é exercida não apenas pelos países capitalistas do topo, mas também por aqueles que estão noutros níveis, mesmo aqueles que são fortemente dependentes das grandes potências, como as potências regionais e locais. Hoje, na nossa região, como é o caso da Turquia, de Israel, dos Estados árabes e, as potências através das quais o capital monopolista ocupa novos terrenos, também se encontram na África, na Ásia, na América Latina e, como consequência, temos o fenómeno da dependência e da interdependência.

A dependência e a interdependência das economias, é claro, não são iguais. Elas são determinadas pela força económica de cada país, bem como por alguns outros elementos militares e políticos, dependendo dos laços particulares da aliança.

Embora um ou mais países estejam no mais alto nível e sejam os líderes da internacionalização e distribuição capitalistas, eles ainda estão sob um regime de interdependência com outros países. Por exemplo, na Europa, a Alemanha pode ser a principal potência, mas as exportações de bens de capital e industriais dependem da capacidade dos Estados europeus de absorvê-los. Já na China, devido à crise, essa possibilidade começou a ser limitada e é por isso que os círculos dirigentes do governo, bem como setores da burguesia, especialmente na indústria, refletem e se preocupam.

O curso da economia dos EUA depende em grande parte da China, bem como de interesses opostos na União Europeia; a batalha do dólar, do euro e do iene é visível.

Nas Teses do 19º Congresso, destaca-se que a tendência de mudança na correlação de forças entre os Estados capitalistas também se reflete na participação dos países no fluxo de capitais na forma de Investimento Estrangeiro Direto (IED), bem como nas reservas de capital na forma de IED que têm fluído.

O número de Estados satélites de fortes potências imperialistas, países capitalistas regionais que desempenham um papel particular na política de alianças e filiação numa ou noutra potência da pirâmide, está a aumentar. As contradições interimperialistas vigoram em todas as formas de aliança e todas essas relações multifacetadas, que abrangem todos os países capitalistas do mundo, sem exceção, constituem a pirâmide imperialista.

A nossa referência a isto não significa, de modo algum, que concordemos com as posições sobre o “ultra-imperialismo”, de que somos injustamente acusados. Muito pelo contrário! Ressaltamos sempre que, no sistema imperialista, que representamos sob a forma de pirâmide, fortes contradições continuam a desenvolver-se e a manifestar-se entre os Estados imperialistas, os monopólios, pelo controle de matérias-primas, rotas de transporte, participações de mercado, etc. A burguesia pode formar uma frente comum para a exploração mais eficiente dos trabalhadores, mas sempre afiará as suas facas quando se trata de partilhar os despojos imperialistas.

Além disso, a acusação de que a referência a uma “pirâmide” é uma abordagem “estruturalista” do imperialismo é ridícula. Lenine, como se sabe, usou o esquema da “cadeia”. O esquema que é usado em cada ocasião é uma forma de ajudar os trabalhadores a entender a realidade do imperialismo como capitalismo monopolista, como capitalismo podre e moribundo, no qual todos os países capitalistas estão incorporados, de acordo com a sua força (económica, política, militar, etc.). Isso está claramente em conflito com a chamada “abordagem cultural” do imperialismo que, como fez Kautsky, separa a política do imperialismo da sua economia. Lenine apontou que essa abordagem nos levaria à avaliação errónea de que os monopólios na economia podem coexistir, na política, com um tipo de atividade não monopolista, não violenta e não predatória.

O desenvolvimento desigual é ainda mais evidente não apenas entre os países capitalistas poderosos em comparação com os mais fracos, mas também no núcleo duro dos países mais poderosos. Note-se que, na Europa, o fosso entre a Alemanha, por um lado, e a França e a Itália, por outro, está a aumentar. No entanto, o fenómeno mais importante e característico é o declínio da parte dos EUA, da UE e do Japão no Produto Mundial Bruto. A zona euro já não ocupa o segundo lugar; caiu para o terceiro lugar, enquanto a segunda posição foi ocupada pela China. A participação da China e da Índia no produto bruto mundial aumentou, enquanto a participação do Brasil, Rússia e África do Sul permanece estável.

No que diz respeito ao capital que constitui o abastecimento do IED [Investimento Direto Estrangeiro], há uma notável tendência de fortalecimento do capital das economias emergentes do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul). A China reforça-se como destino de IED após a eclosão da crise capitalista em 2008. Como exportadora de capital, está a aumentar a sua participação no IDE externo global, que mais do que duplicou em 2007-2009 e permaneceu num nível elevado desde então.

Por outro lado, a participação das economias capitalistas desenvolvidas na entrada e saída de capital de IDE tende a diminuir após a eclosão da crise. É claro que eles não perdem a sua primazia (mantendo distância do grupo anterior de países), já que no meio das crises a maior parte se dirige ou provém dos EUA e dos países da União Europeia.

Uma tendência semelhante está a desenvolver-se no que diz respeito à participação das importações e exportações de mercadorias. A participação da China está a reforçar-se constantemente em relação ao total das exportações de mercadorias, bem como no conjunto às importações. A correspondente participação da Índia está a fortalecer-se, mas a um ritmo muito mais lento, enquanto a Rússia, a Coreia do Sul e a África do Sul estão a mover-se num ritmo cada vez maior.

Os únicos países membros da OCDE que superam os EUA em produtividade (volume de produção por unidade de tempo) são a Noruega, a Irlanda, o Luxemburgo e, logo atrás, a Alemanha, a França, a Bélgica e a Holanda.

Nas Teses do 19º Congresso é enfatizado que mudanças na correlação de forças entre os Estados capitalistas aumentam a possibilidade de uma mudança geral na posição da Alemanha em relação à questão das relações euro-atlânticas e ao reordenamento dos eixos imperialistas. Os fatores decisivos para esta evolução são, por um lado, as relações de interdependência entre as economias dos Estados Unidos e da União Europeia e, por outro, o antagonismo entre o euro e o dólar como moedas de reserva internacional e o reforço da cooperação entre a Rússia e a China.

Sobre a posição da Grécia no sistema imperialista

Quem fala em subordinação e ocupação não reconhece a exportação de capital da Grécia (característica do capitalismo na fase imperialista) que era significativa antes da crise e continua inabalável em condições de crise. A exportação de capitais é realizada para investimentos produtivos noutros países e, claro, em bancos europeus até que se formem as condições para que eles voltem a entrar no processo de garantir o máximo de lucro possível. Eles veem escassez de capital em vez de sobreacumulação.

Eles não veem o problema da sobreacumulação porque então serão forçados a admitir o caráter da crise económica capitalista, o que faria ir pelos ares a sua proposta política pró-monopolista. Os partidos burgueses, assim como os oportunistas, apesar das diferenças parciais entre eles, defendem a proteção da competitividade dos monopólios internos que inevitavelmente colocam em primeiro plano a reestruturação reacionária, garantem uma força de trabalho mais barata, intensificam a intimidação estatal, a repressão e o anticomunismo e, ao mesmo tempo, concentram a atenção na expansão do capital grego na região (Balcãs, Mediterrâneo Oriental, zona do Mar Negro). É, entre outras coisas, o círculo vicioso que leva a um novo e mais profundo ciclo de crise.

Lenine, na sua obra sobre o imperialismo, acrescentou que a comparação não pode ser feita entre os países capitalistas desenvolvidos e atrasados, mas entre a exportação de capital, uma questão que os oportunistas de toda parte não querem e não ousam reconhecer, porque esse critério refuta o seu ponto de vista em relação à ocupação da Grécia, a colónia grega.

Todos esses dados também confirmam que, desse ponto de vista, a luta contemporânea deve ter uma direção antimonopolista, anticapitalista, que em hipótese alguma pode ser apenas anti-imperialista com o conteúdo dado a esse termo pelos oportunistas, que identificam o imperialismo com a política externa agressiva, com a desigualdade das relações, com a guerra, com a chamada questão nacional, desligada da exploração de classe, das relações de propriedade e poder.

É um facto que a adesão de um país a uma aliança interestatal imperialista, e mesmo com uma forma mais avançada como a União Europeia, limita algumas capacidades de manobras táticas do ponto de vista da burguesia. Por exemplo, minimiza as margens e as possibilidades de manobra na política monetária, uma vez que está sob a jurisdição do Banco Central Europeu. Mas esta questão não diz respeito apenas ao período da crise, uma vez que os acordos tinham sido assinados entre os Estados-membros muito antes – 20 anos antes da eclosão da crise na zona euro – acordos segundo os quais os direitos dos Estados nacionais são conscientemente cedidos, reconhecendo-se o primado do direito europeu em muitas matérias, independentemente do facto de a zona euro e a União Europeia em geral não terem uma forma federal. Esta tendência, justamente, que demonstra o interesse de classe da burguesia, expressar-se-á na promoção de elementos de federalização da União Europeia se as respetivas divergências interimperialistas forem superadas.

A situação em África, nas regiões da Eurásia e no Médio Oriente confirma que todos os países capitalistas estão incorporados no sistema imperialista internacional, independentemente de terem ou não a capacidade de assumir a responsabilidade pela execução de uma política expansionista. De qualquer forma, o século XX e o século XXI demonstram que mesmo os EUA, a principal potência imperialista, não podem administrar de forma independente os assuntos mundiais do imperialismo se não tiverem ajuda múltipla e apoio dos seus aliados, se não formarem alianças pelo menos temporárias. A Grécia não é apenas um Estado-membro da União Europeia e da NATO; é um país que tem uma aliança de importância estratégica com os Estados Unidos, devido à sua posição geográfica como encruzilhada de três continentes, Europa, Ásia e África, é uma importante base militar para lançar ataques e abastecer operações militares, um país através e ao lado do qual passam oleodutos e gasodutos. Ao longo do século XX, assim como do XXI, quando necessário, contribuiu para operações de guerra imperialista e manutenção da paz, bem como no caso da guerra na Jugoslávia, no Afeganistão, no Iraque e na Líbia com forças militares, e também mostrou a sua prontidão em caso de guerra contra a Síria.

Portanto, a posição do KKE de que a Grécia pertence ao sistema imperialista, que está organicamente integrada e que desempenha um papel ativo na guerra como aliada dos principais atores, é completamente justificada. Esta é uma decisão do interesse da burguesia que, de facto, apelou duas vezes ao imperialismo britânico e norte-americano para esmagar o povo armado com forças militares, armas e operações militares.

Os oportunistas contemporâneos, quando querem enfatizar a necessidade de a sua burguesia não ser o “parente pobre” na divisão dos mercados, lembram a questão nacional, mas quando se trata da questão da luta pelo socialismo, então, declaram que o socialismo será mundial ou que não pode ser realizado num único país. Renunciam à luta a nível nacional, ou seja, rejeitam a necessidade de agudizar a luta de classes, a necessidade de preparar o fator subjetivo em condições de situação revolucionária.

A luta pela libertação do homem de toda forma de exploração, a luta contra a guerra imperialista, não pode ter um desenvolvimento positivo se não for combinada com a luta contra o oportunismo. Independentemente da força política do oportunismo em cada país, ele não deve ser subestimado ou julgado por critérios parlamentares, uma vez que a raiz do oportunismo está no próprio sistema imperialista, porque a burguesia, quando percebe que não pode administrar os seus assuntos com estabilidade, apoia o oportunismo como uma visão generalizada, como partido político, para ganhar tempo para reagrupar o sistema político burguês, minar o crescimento constante do movimento operário revolucionário. A concentração de forças, a aliança da classe trabalhadora com os setores populares pobres dos trabalhadores por conta própria deve ser objetivamente desenvolvida numa direção anticapitalista firmemente antimonopolista, visando a conquista do poder pelos trabalhadores. A direção antimonopolista e anticapitalista expressa o compromisso necessário, mas avançado, entre o interesse da classe trabalhadora em eliminar todas as formas de propriedade capitalista – grandes, médias e pequenas – e as camadas que oscilam pela sua natureza (pela sua posição na economia capitalista) têm interesse na abolição dos monopólios, na socialização dos meios de produção concentrados e, ao mesmo tempo, estão imbuídas da ilusão de que têm interesse na pequena propriedade privada. Não conseguem compreender que os seus interesses a longo e médio prazo só podem ser servidos pelo poder socialista. A ilusão de que qualquer outro compromisso pode ser bem-sucedido em condições de capitalismo monopolista, ou seja, na fase imperialista do capitalismo, é prejudicial, utópica, ineficiente.

O KKE, em condições em que não há uma situação revolucionária, visa não apenas impedir o curso descendente, não apenas conseguir algumas concessões temporárias, mas também preparar o fator subjetivo, ou seja, o partido da classe operária e seus aliados para realizar as suas tarefas estratégicas em condições de situação revolucionária. Nestas condições, que não podem ser previstas antecipadamente, é necessário ter em conta o aprofundamento da crise económica, a agudização das contradições interimperialistas que chegam ao ponto de conflitos militares, é possível que se criem estas condições prévias e desenvolvimentos na Grécia. Nas condições da situação revolucionária, o papel de preparação organizativa e política da vanguarda do movimento operário, do Partido Comunista, é decisivo para o agrupamento e orientação revolucionária da maioria da classe operária, especialmente do proletariado industrial, a fim de atrair os setores dirigentes das camadas populares.

Fonte: El Comunista Sobre el imperialismo-la pirámide imperialista (nuevaradio.org)

Ilustrações:

1 O Imperialismo. Fase Superior do Capitalismo | Amazon.com.br

2 Guerra do Vietnã: resumo, motivos e participantes – Toda Matéria (todamateria.com.br)

3 Imperialismo e movimentos de libertação colonial na África | História – PIBID (ufg.br)

4 Imperialismo: o que é, como surgiu, objetivos – História do Mundo (historiadomundo.com.br)

5 Imperialismo (todoestudo.com.br)

6 Imperialismo na África – Toda Matéria (todamateria.com.br)

7 Imperialismo: etapa superior do capitalismo by Carlos Lucena – Issuu