Uma das mais sonoras campanhas de manipulação da opinião pública durante a perestróika desenvolveu-se em torno do chamado «projecto do século», que consistia no represamento e transvase de água dos rios do Norte e da Sibéria para as repúblicas da Ásia Central, visando em particular salvar o Mar Aral da extinção.
A temática ecológica, como assinala o autor, foi «a plataforma que permitiu aos organizadores do projecto anti-soviético juntar pessoas para as primeiras acções políticas».
Este facto é reconhecido pelo sociólogo O.N. Ianitskov, membro da Academia de Ciências da Rússia, que o autor cita: «O protesto ecológico na URSS, entre 1987 e 1989, constituiu a primeira forma legal de protesto social e de solidariedade entre cidadãos (…) Os conflitos ecológicos nas repúblicas do Báltico estimularam a criação das frentes populares em defesa da perestróika e legitimaram a sua luta, inicialmente pela independência económica, depois pela saída da URSS (…) Em Fevereiro de 1989, realizou-se na URSS a primeira acção maciça contra o governo, com mais de 300 mil pessoas provenientes de uma centena de cidades em protesto contra a construção do canal VolgaTchograi.»
As alterações na esfera cultural eram «uma condição necessária para se garantir a desejável passividade das massas no decorrer da “revolução” da nomenclatura. Era preciso arrancar as pessoas das tradições, da memória histórica e da cultura russa, para criar o “indivíduo massificado” – um género cultural particular que a Rússia não conhecera até aqui», observa Kara-Murza.
Este objectivo, explica, começou a ser alcançado no final dos anos 80, quando «a máquina ideológica de Gorbatchov conseguiu inesperadamente transformar numa massa uma parte de um povo de muitos milhões de pessoas politicamente activas».
Recensão de CN, Abril 2004, da obra de Serguei Kara-Murza A Civilização Soviética, Algoritm, Moscovo, 2002, publicada em http://www.hist-socialismo.com/docs/ACivilizacaoSovietica.pdf, p. 20.